segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Uma crónica do presidente da CIP


O presidente da CIP tem uma crónica no DN/Dinheiro Vivo.
Como todas as crónicas, algumas edições contém lugares comuns, o que é natural dada a urgencia da publicação e a complexidade dos temas. Mas duma maneira geral as análises são pertinentes e muito válidas.
Na edição de 28 de setembro de 2019, sob o título "Uma tarefa para o próximo governo", a crónica é especialmente oportuna e as palavras do presidente da CIP são de grande pertinência denunciando os riscos de não se fazer convenientemente o planeamento das infraestruturas abrangidas pela famosa designação PNI2030 (plano nacional de infraestruturas).
Para a sua execução é indispensável o apoio comunitário, apesar de já haver pouca esperança de poderem integrar o programa 2021-2027. É condição indispensável para beneficiarmos dos fundos haver anteprojetos prontos suportados por análises comparativas de custos benefícios.
Como muito bem observa o presidente da CIP, o que a Assembleia da República fez foi aprovar um relatório da comissão de obras públicas contendo as listagens de todos os investimentos que diversas entidades foram apresentando.
Isso não é um planeamento nem um guia de ação. E mantem-se o desconhecimento do andamento dos trabalhos do CSOP e a inoperancia do debate público.
Como o presidente da CIP observou numa crónica anterior, não há uma referencia ás ligações ferroviárias à Europa em bitola UIC, isto é, reconhecem-se à partida as limitações que a estratégia oficial de recurso exclusivo à bitola ibérica e à rodovia (agora enche-se a boca com os megacamiões para rentabilizarem as autoestradas esquecendo os custos energéticos do transporte rodoviário e os custos adicio0nais de manutenção das estradas).
A insistencia na bitola ibérica é uma estratégia da IP, dos operadores Medway e Takargo e dos agrupamentos europeus de interesse económico (onde estão representadas a IP, a ADIF, a SNCF e  a DB) AVEP (alta velocidade Espanha-Portugal) e RFC4 (rail freight corridor 4) acriticamente suportada pelos XIX e XXI governos.
Funcionará porque a rede ibérica em Espanha perdurará, e a ideia é transportar por rodovia as mercadorias para as plataformas logísticas de Vigo, Salamanca e Badajoz e por ferrovia para a plataforma logística de Vitória, no país basco, que terá a ligação por bitola UIC a França em 2023. Mas as caraterísticas de traçado da rede ibérica e a sua falta de competitividade para o transporte de mercadorias para França e Alemanha impedem o desenvolvimento pleno da economia das exportações, isto é, Portugal perderá uma oportunidade, embora com riscos, de crescer, a menos que se prefira a mediania e a permanente dependencia dos negócios com Espanha.

Recordo a estimativa que apresentei no powerpoint na Ordem dos Engenheiros em 28 de fevereiro de 2018 de custos de transporte por modo de transporte em centimos/tonelada-km (não posso garantir a fiabilidade dos meus cálculos, mas com tantos ilustres defensores da rede de bitola ibérica não haverá quem demonstre que não estão corretos?) :
            camião com reboque de 3 eixos      4,17
            megacamião                                    3,47
            camião elétrico/reboque 3 eixos     2,29
            ferrovia linha existente bit ibérica  1,67
            ferrovia linha nova bitola UIC        1,2

Dados da Pordata com o volume de exportações de bens por país em 2018 e milhões de euros:
            Espanha      14 685
            França           7 344
            Alemanha     6 648
            Holanda        2 209
            total de exportações de bens  58 000
Se incluirmos o volume de serviços exportados:
            Espanha      18 828
            França         12 232
            Alemanha     9 859
            Holanda        3 470
            total de exportações de bens e serviços   90 000

Isto é, o volume de negócios com os 3 países além Pirineus servidos pelo corredor atlantico das redes transeuropeias do regulamento 1316 da UE é superior ao volume de negócios com a Espanha, recordando-se que mo corredor atlantico o tráfego deverá ser misto (mercadorias e passageiros, o que está relacionado com a necessidade de conter o tráfego aéreo de curto curso).

Infelizmente, as perspetivas para termos um plano razoável de investimentos em obras públicas são, neste momento, deploráveis.

https://www.dinheirovivo.pt/opiniao/uma-tarefa-para-o-proximo-governo/

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