terça-feira, 29 de setembro de 2020

PRESS RELEASE ENVIADO À COMUNICAÇÃO SOCIAL EM 29 DE SETEMBRO DE 2020

 



CUSTO EXTRA DA BITOLA EUROPEIA EM LINHAS NOVAS É ZERO 


   Peritos pedem á Comissão Europeia para estimular fortemente o governo português a modernizar a ferrovia 


Um grupo de 28 representantes de associações empresariais, economistas e especialistas em ferrovia, escreveram à Comissão Europeia pedindo para deixar de pactuar com «o desperdício de recursos em soluções que não satisfazem as necessidades da economia portuguesa.  

«Use os instrumentos à sua disposição, incluindo os fundos comunitários», para a implementação em Portugal de uma rede ferroviária de bitola europeia (UIC), para mercadorias e passageiros», solicitam em carta enviada à comissária europeia dos transportes, Adina Valean. 

Entre os signatários deste documento encontram-se o ex-ministro da Economia, Luís Mira Amaral, o empresário Henrique Neto, o ex-secretário de Estado da Justiça, João Luís Mota Campos, o presidente da Associação Empresarial de Portugal, Luís Miguel Ribeiro, e outros dirigentes empresariais, bem como o presidente da Câmara Municipal de Viseu, António Almeida Henriques, e o professor do Instituto Superior de Economia e Gestão José Augusto Felício. 

«O custo extra da bitola europeia é zero em linhas novas, que é ou devia ser o caso das principais linhas internacionais e da nova Linha Lisboa-Porto, dado que o custo de construção destas linhas é o mesmo em ambas as bitolas, UIC ou ibérica», referem os subscritores, Manifestam-se preocupados pelo facto de o Governo «já ter declarado que Portugal não necessita da bitola UIC, e por os planos de investimentos para 2030 não incluirem a construção ou modernização de um único quilómetro de via em bitola UIC». Para os subscritores, esta política levará ao isolamento da Economia portuguesa, porque «a Espanha,  iniciou o processo de introdução da bitola UIC na sua rede ferroviária há 32 anos». 


Correspondência com a Comissão Europeia  disponível para download em:


https://1drv.ms/u/s!Al9_rthOlbwevGmZLTa_zcFZI5HM?e=ARb18S 

ou

ou 

 

Contactos para esclarecimentos adicionais: 

 

           Luis Mira Amaral 
lmiraamaral@gmail.com                      
 
Mário Lopes 
mariolopes@tecnico.ulisboa.pt            
 
Luis Cabral da Silva 
luiscsilva01@gmail.com                        
 
Henrique Neto 

            henriquejosesousaneto@gmail.com      

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Encontro quadripartido a propósito da bitola UIC ou europeia

Depois duma troca de argumentos num programa da TVI e nalguma imprensa entre o dr Carlos Vasconcelos, presidente da Medway, e Henrique Neto, empresário e membro do grupo de opositores da politica ferroviária do governo, foi sugerido um encontro para esclarecimento das posições de cada um dos lados, de modo a evitar a proliferação de interpretações distorcidas.

E assim foi possivel organizar um encontro na sede da Medway, à avenida da República, onde a CP tinha a sua direção de Equipamento, e onde visitei colegas nos meus tempos de sinalização ferroviária.

A reunião decorreu num ambiente cordial, com a Medway a cumprir escrupulosamente os seus deveres de anfitriã.

Mas para nós foi uma surpresa o encontro ser quadripartido. Para alem dos esperados "adversários", compareceram representantes da Takargo e da IP.

Daqui concluimos, não sei se precipitadamente mas era a aparência, que o entendimento entre a IP, a Medway e a Takargo é perfeito. A sintonia entre a Medway e a Takargo compreende-se, a segunda não tem até agora feito grandes investimentos com que possa disputar com a primeira uma quota maioritária, e ambas lutam com a dificuldade de uma rede ferroviária obsoleta, com pendentes que exigem uma segunda locomotiva e aumentam os consumos de energia, com troços por eletrificar e, como destacam sempre que podem, com falta de resguardos para cruzamento de comboios com 740 metros.  Com os atuais comboios de 450 metros não é possivel competir com o transporte rodoviario. Não admira assim, até porque tem feito investimentos em material circulante e em plataformas logísticas, que a Medway persista em resultados operacionais negativos.

É um facto, a camionagem não suporta os custos de manutenção da infraestrutura e beneficiam de uma quase isenção de impostos petroliferos e de uma efetiva isenção de taxas de poluição e de congestionamento. 

Na previsão do combate às alterações climáticas e da tendencia para o cumprimento do plano europeu de transferencia para modos menos poluentes da carga rodoviaria no valor de 30%  ate 2030 e de 50% até 2050, seria prudente estudar desde já um plano de reconversão das empresas de camionagem. A nossa sugestão é o desenvolvimento das auto-estradas ferroviarias, ou transporte de camiões ou sem-reboques em vagões. O representante da Takargo manifestou preocupação com o desenvolvimento dos camiões autónomos de tração por hidrogénio. É possivel que seja concretizavel esse projeto, mas considere-se que um comboio pode transportar 40 camiões sem condutor, que o consumo especifico de energia por tonelada-km será sempre superior porque a resistencia ao rolamento é superior no contacto pneu-asfalto comparativamente com o contacto roda-carril, que o hidrogénio obtido por eletrólise exige um consumo de 50 a 60 kWh para produção de  1 kg, equivalente em energia a 1 litro de gasóleo. Daí um rendimento energético do camião de hidrogénio cerca de metade do rendimento do camião diesel, e ainda menor se comparado com o comboio alimentado por catenária com origem renovável. Considerar ainda o consumo elevado de energia para o processamento da condução autónoma.

A unanimidade de pontos de vista das transportadoras Medway e Takargo com a IP é um pouco estranha porque a engenharia de transportes, como qualquer engenharia, não é uma ciencia exata, mas o que transparece é uma doutrina estabilizada (demasiadamente estabilizada, do nosso ponto de vista), aparentemente fruto da definição da estratégia nos agrupamentos europeus de interesse económico AEIE - AVEP, alta velocidade Espanha-Portugal, e RCF4. rail freight corridor nº4 ou atlantic corridor,  reconhecidos pela CE como atores ou mesmo gestores das redes TEN-T e que, de acordo com os nossos interlocutores, se sintetiza assim:

- estão de acordo que a bitola UIC seria um fator ideal para a melhoria do transporte de mercadorias e não são contra a sua adoção nas linhas de ligação à Europa (aqui há concordancia)

- mas consideram que os outros fatores de interoperabilidade, comprimento de 740m, 25 kV, ERTMS, pendentes, são mais importantes e de resolução mais urgente (aqui há discordancia, uma vez que estar a emendar linhas existentes como na linha da Beira Alta para mais tarde introduzir a bitola UIC é agravamento de custos; igualmente discordamos porque, sendo certo que não deve haver pendentes elevados e que deve haver resguardos de 740m, os custos das intervenções corretivas aproximam-se dos custos da construção de linha nova, com estes e outros parâmetros mais adequados para uma exploração energeticamente mais favorável, pelo que, se há vantagem numa linha nova, ela deverá ser em UIC; recordámos ainda o estudo do corredor atlântico já citado pelo eng. Carlos Fernandes, que a bitola UIC permitiria uma redução de custos da tonelada-km de 6% num serviço Leixões-Paris, comparativamente com reduções de 2% utilizando os 25 kV ou o ERTMS, pelo que a irrelevancia da bitola é discutivel)

- sendo a bitola o fator de interoperabilidade menos importante, não havendo data por parte de Espanha para ligar em UIC  Portugal, e parecendo já inexequível em grande parte da Europa o plano das redes TEN-T para 2030, por razões de prioridades e de calendarização não é urgente projetar linhas em UIC em Portugal (este raciocínio poderia até levar a um prazo de 30 anos para a implementação de linhas UIC em Portugal, ultrapassando até o prazo de 2050 para a rede complementar, e sugere a dúvida se os programas da União Europeia são ou não para cumprir e o seu incumprimento justifica ou não uma queixa formal contra os governos que se opõem na prática à sua concretização. Deixámos aos nossos interlocutores uma relação de críticas da Comissão Europeia, da DG MOVE e do ECA (European Court of Auditors) à descoordenação e falta de calendarização dos governos de França. Espanha e Portugal e recordámos as cimeiras luso-franco-espanhola de Talin de 2013 e franco-espanhola de setembro de 2017 em que ficou registado o interesse em avançar com o corredor atlântico. Contestámos ainda a desvalorização da bitola como fator de interoperabilidade uma vez que em engenharia não se esquecem fatores que integram um conjunto, isso reduz o rendimento do conjunto)

- consideram satisfatória a exploração da rede ibérica da península, para além dos postos secos Vigo, Salamanca e Badajoz,  com o serviço da futura plataforma de Vitoria em 2023 com bitola ibérica, donde seguirá por bitola UIC para França (referida a oposição que França faz adiando a nova linha Bordeus-Hendaye, o que mais uma vez mostra que é necessária uma ação politica e diplomática para reverter os atrasos da rede TEN-T e a obstrução em Espanha de ligação à Europa).

- só deverão projetar-se linhas em UIC em Portugal , independentemente de se montarem travessas polivalentes, depois de Espanha definir firmemente as datas de chegada da bitola UIC às fronteiras (discordamos, podem mediar 10 anos entre a decisão e a inauguração de um troço ferroviário, além de que a ligação Sines-Lisboa-Porto-Leixões é independente de Espanha; aqui parece haver acordo em que a linha Lisboa-Porto seja completamente nova, mas persiste o desacordo quanto à bitola. De qualquer modo, parece-nos inadmissivel, por incompatível com o direito internacional e com os planos TEN-T da CE, o argumento de que só possamos ter ligações à Europa em UIC quando Espanha o decidir)

Um dos representantes da IP mostrou os quadros do observador del ferrocarril/ADIF para ilustrar o facto de Espanha não ter programada nenhuma ligação em UIC a Portugal nem nenhum percurso para mercadorias integrado no corredor atlàntico das redes TEN-T . Acrescentou que não há UIC para mercadorias em Espanha para além da linha de Barcelona para Perpignan.

Recordámos a decisão em 2011 do ministério do Fomento espanhol de todas as linhas novas serem para tráfego misto, a previsão do Y basco para 2023, a linha Barcelona-Perpignan para tráfego misto e as recentes declarações de Macron para desenvolver o tráfego de mercadorias, nomeadamente em auto-estradas ferroviárias.

Observámos que os mapas apresentados são de 2018 e que posteriormente circularam notícias dando conta de que existem obras no corredor mediterrânico, que o ministro Abalos tem sido chamado frequentemente por associações de empresários que defendem a construção do corredor mediterranico até 2026 com ligação UIC dos portos mediterranicos a Barcelona e daqui à Europa. Mostrámos tambem noticias dos serviços com vagóes frigorificos pela ligação UIC de Barcelona para Inglaterra e para o Luxemburgo. Igualmente do avanço das ligações para os portos das Asturias, com recurso a ligações de três carris e troços em UIC como numa das vias do tunel de Pajares.

O representante da Takargo informou que estão a prestar serviços à Auto Europa para o porto de Setubal com comboios de 680m de um andar.

O representante da Medway informou que estão a estudar um comboio para a Europa em parceria, estimando 50€ de custo de transbordo por contentor. 

Não têm a curto prazo intenção de investir em eixos intermutáveis (mudança de rodados com os bogies suspensos) ou nos muito falados agora, embora seja uma solução clássica, eixos variáveis (problema de custos, peso, manutenção em paises distantes, exigencia de monitorização a bordo permanente).

Referimos ainda a abertura das linhas de alta velocidade espanholas a operadoras francesas, italiana e espanhola, a necessidade de subir as exportações a 60% do PIB com o apoio da ferrovia nova, e a solução de empresas como a IP terem direções autónomas mas com contabilidades separadas, embora de monitorização mútua, uma para beneficiação, manutenção e modernização, outra para investimentos novos.


Numa frase curta, em resumo, diremos que estamos de acordo quanto à necessidade da bitola UIC, mas divergimos no prazo de execução e nas prioridades. 

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

A propósito da ferrovia no plano de recuperação de Costa Silva

 O primeiro ministro apresentou o plano de recuperação do prof.Costa Silva pedindo "consenso alargado" para não se "perder tempo" e os benefícios do financiamento a fundo perdido de 12 mil milhões de euros:

http://publico.newspaperdirect.com/epaper/viewer.aspx

Poderá dizer-se que o debate alargado se ficou por aqui, que o papel do CSOP na definição dos investimentos em função de 2030 (PNI2030) ficou esbatido, assim como o aprofundamento dos vários temas, contributos ou ideias com a participação da sociedade civil.

Curiosamente, uma das conclusões do assessor foi, após conversa com "especialistas", abandonar a ideia das ligações ferroviárias à Europa segundo todos os parâmetros da interoperabilidade. Foi assim que, contrariamente às primeiras informações, foi deixada cair a bitola europeia. Sem que os argumentos tivessem sido devidamente analisados pela opinião pública.

Isto é, a máquina comunicacional do governo sabe o que faz.


Sem pòr em causa a bondade da visão estratégica sobre outros temas do trabalho de Costa Silva, sente o grupo que se opõe à política ferroviária do governo e da IP, necessidade de informar a opinião pública sobre a incorreção de alguns dos argumentos utilizados. 

Queremos deixar bem claro que não pretendemos, contrariamente ao afirmado, “a troca da bitola ibérica pela bitola europeia”. 

Não nos opomos à modernização de muitos dos troços da rede existente, mas não propomos a mudança da bitola da rede existente, cerca de 2500km, para europeia, o que a um custo unitário de 4 milhões de euros por km (apenas para mudança de carris e beneficiações do leito de via) se traduziria por cerca de 10.000 milhões de euros. 

A nossa proposta é diferente, conforme foi comunicado a Costa Silva em junho de 2020, e é a execução até 2030 da parte portuguesa das redes transeuropeias de transporte TEN-T conforme o White Paper de 2011 e os regulamentos 1315/2013 e 1316/2013 que definem a interoperabilidade da ferrovia na UE e fixaram 30% de transferência da carga rodoviária para os modos marítimo e ferroviário até 2030. 

São cerca de 1000 km: tráfego misto de passageiros e de mercadorias, Sines-Lisboa-Porto-Leixões; Aveiro-fronteira portuguesa para Salamanca; e Lisboa-Caia para Madrid. 

Ao custo unitário de 15 a 20 milhões de euros por km, e beneficiando de cofinanciamento comunitário de 40 a 70% (se, e só se elaborados os projetos e as análises de custo-benefício), estimar-se-á um custo total “colossal” nos dizeres do professor (num país em que se compram anualmente 4.000 milhões de automóveis ligeiros, se gastam 5.000 milhões em jogos e apostas, 7.000 milhões em juros e 18.000 milhões em perdas por corrupção), de cerca de 12.000 milhões de euros num prazo de execução admissível de 15 anos. Parece exagerada a utilização do termo "colossal".

A principal fundamentação do investimento na nova rede de bitola europeia de ligação à Europa além Pirineus é facilitar a exportação (atualmente o valor das exportações para o conjunto França e Alemanha supera o valor para Espanha). Para passageiros, a alta velocidade para Madrid justifica-se pela maior eficiência energética do transporte ferroviário comparativamente com o modo aéreo. 

Tudo isto foi comunicado ao professor na referida mensagem de junho de 2020, assim como as referências das críticas que a Comissão Europeia, o Tribunal de Contas Europeu (ECA) e a própria DG MOVE têm recentemente feito aos governos português, espanhol e francês pela falta de coordenação e de um plano para execução da sua parte das redes TEN-T até 2030. Numa altura em que o sr primeiro ministro insiste que “não há condições politicas” para debater a alta velocidade (declarações de fevereiro de 2020). 

Curiosamente, e contrariamente ao divulgado relativamente à carta resposta da Comissária dos Transportes, assinada não pela Comissária, mas por um diretor da DG MOVE, no seu 2º parágrafo pode ler-se que estão a construir-se novas linhas ou a modernizar-se linhas para “by 2030 are creating a UIC gauge rail network in Portugal”. Isto é, se bem interpretamos o inglês, mantem-se o objetivo de 2030 para a rede portuguesa de bitola europeia.  

O resto da carta, indiciando sintonia com o diretor da DG MOVE, expõe os argumentos do governo português e da IP reproduzidos agora por Costa e Silva e na comunicação social, como a insistência nas soluções  (novas tecnologias no dizer do professor, pese embora já terem décadas de existência) criadas para ligar uma rede ibérica existente a uma rede UIC  em expansão e não para impedir esta: travessas polivalentes, terceiro carril e eixos variáveis para passageiros e mercadorias. Os eixos variáveis para mercadorias são uma notável obra de engenharia, mas a sua utilização em longas distancias é menos económica do que eixos fixos.  

Igualmente é incorreta a afirmação de que a eletrificação é um parâmetro de interoperabilidade mais importante do que a diferença de bitolas. Isso é verdade entre países com bitola igual, mas como demonstrou um estudo em que a própria IP participou, a diferença de bitolas é o segundo fator, a seguir ao comprimento de 740m dos comboios, de potencial redução do custo do transporte, por exemplo entre Leixões e Paris. 

No fundo, o que a polarização desta discussão sobre bitolas revela é a tendencia das pessoas para optar por uma solução que se considere universal, em vez de aceitar duas áreas distintas de atividade, dotada cada uma de orçamento próprio, uma área de manutenção, modernização e beneficiação da rede ibérica existente, outra área para o projeto e implementação da rede interoperável de alta velocidade e transporte de mercadorias. Uma coisa não devia excluir a outra.


Toda esta informação está disponibilizada para os interessados em 

https://manifestoferrovia.blogspot.com/2020/06/a-discussao-bitola-iberica-bitola-uic.html 

https://manifestoferrovia.blogspot.com/2020/09/ainda-resposta-da-dg-move-carta-para.html



Alguns argumentos contra a construção de raíz das ligações ferroviárias à Europa em bitola europeia

  ALGUNS ARGUMENTOS CONTRA A CONSTRUÇÃO DE RAÍZ DAS LIGAÇÕES FERROVIÁRIAS À EUROPA EM BITOLA EUROPEIA O PRR prevê q...