quinta-feira, 29 de abril de 2021

Sessão de 19abr2021 no LNEC sobre o lançamento do Plano Nacional Ferroviário

 

Sessão de 19abr2021 no LNEC sobre o lançamento do Plano Nacional Ferroviário


Pela leitura dos comentários dos leitores às notícias sobre as iniciativas ministeriais integradas no ano internacional da ferrovia declarado pela Comissão Europeia, vive-se um momento de entusiasmo e de esperança na correção do desinvestimento crónico na ferrovia.

Infelizmente, não tenho capacidade de me entusiasmar com as notícias. Por formação ou deformação profissional só posso discutir coisas concretas, mas fala-se muito em intenções. Que qualquer cidadão poderá dar contributos para o Plano Nacional Ferroviário que terá de estar pronto em 2022, conforme foi anunciado pelo sr MIH na sessão de 19 de abril no LNEC:

https://www.publico.pt/2021/04/19/economia/noticia/ferrovia-caminho-cidades-20-mil-habitantes-1959135

A base do meu contributo será que não deverá haver um plano ferroviário, mas dois, um centrado na rede convencional, existente, de bitola ibérica, a modernizar, e outro na rede de Alta Velocidade e novas linhas, a construir segundo os padrões europeus (todos, sem exceção) conforme os regulamentos das redes transeuropeias, o 1315 e o 1316, os quais, dizem os textos jurídicos comunitários, são vinculativos, o que tem sido soberanamente ignorado pelo poder político português e pela IP.

Esta separação (hierárquica, conforme propõem os tratados da qualidade, e orçamental, que é o que se tem praticado em Espanha, com  sucesso) é indispensável para que a ferrovia em Portugal corresponda aos objetivos comunitários da rede única europeia e do Green Deal.

Por deformação profissional (no metro transitei da área de manutenção para a de estudos e desenvolvimento de infraestruturas) apenas enviarei como contributo sugestões para linhas novas e, o que me parece também corresponder melhor aos objetivos comunitários, para a retirada dos metropolitanos e redes urbanas do ministério do ambiente para o ministério das infraestruturas.
Curiosamente, já em outubro de 2020 tinha sido veiculada pelo governo, a propósito do PNI 2030, a intenção de estudar a ligação ferroviária das capitais de distrito em falta. Nessa altura elaborei um pequeno esboço para 3 tipos de redes de linhas novas em Portugal, as da rede TEN-T core (principal, objetivo 2030) , as da rede TEN-T comprehensive (complementar)  e as da rede das capitais de distrito. Envio em anexo.
Como referido, estas linhas novas são propostas segundo os padrões da interoperabilidade europeia, que incluem desde a bitola UIC e alimentação 25 kVAC até aos limites dos gradiantes (1,2%), velocidades (250 km/h passageiros, 100-120 km/h mercadorias) e raios de curvas (mínimo da ordem de 5000 m). É evidente que sempre que estes padrões encontram condições topográficas desfavoráveis, os custos sobem, mas não parece acertado estar a poupar agora para termos linhas com severas limitações operacionais (caso da recuperação da linha da Beira Alta, por exemplo, quando para corresponder ao objetivo comunitário de transferência de 30% da carga rodoviária para a ferrovia (ou marítimo) quando se espera, para reequilibrio da economia nacional, o crescimento das exportações para a Europa. Contrariamente à ideia difundida, as exportações, mesmo terrestres, para a Europa além da  Espanha superam já em tonelagem e valor as exportações para Espanha. 
É este o principal argumento, além do carater vinculativo dos regulamentos 1315 e 1316, para a reivindicação de ligações ferroviárias à Europa além Pirineus em bitola UIC.
Porque só devo discutir coisas concretas, como disse, no esboço seguinte faço uma estimativa por alto, de cerca de, para as novas 3 redes, cerca de 22.800 milhões de euros com um esforço anual de 1.400 milhões de euros durante 16 anos. É uma perspetiva diferente da apresentada pelo sr MIH e seu assessor.
Mas claro que as nossas dificuldades financeiras são muito grandes, se bem que para fazer os projetos não seria necessário muito dinheiro, mas também há dificuldades para isso.

Rede básica (core) 2030 »1000km x 20M€/km = 20.000M€ » cofinanc.40% » 12.000M€ » 12 anos (2021-2027) + (2028-2034) » 1.000M€/ano Rede complementar (comprehensive) 2050 » 400km x 20M€/km = 8.000M€ » cofinanc.40% » 4.800M€ » 6 anos (2034-2040) » 800M€/ano Rede adicional cap.distritos » 400km x 15M€/km = 6.000M€ » s/cofinanc. 10 anos 2035-2045 » 600M€/ano Esforço máximo 1.400M€/ano ca. 0,8% PIB


Comentário à intervenção do vice presidente da IP Carlos Fernandes

De acordo com a notícia em 
https://revistacargo.pt/carlos-fernandes-ip-ferrovia-com-investimento-sem-paralelo-e-foco-na-resolucao-das-cargas/

o eng.Carlos Fernandes recorreu a alguns argumentos que pela sua consistência justificam uma análise mais próxima. Inteiramente de acordo que os traçados das linhas antigas condicionam a sua exploração com bons rendimentos. É o mesmo problema das estradas antigas e das autoestradas, tem de se adotar traçados diferentes para estas. 
Pena que só tenha utilizado este argumento para as linhas de bitola métrica. O raciocínio aplicar-se-á tambem às linhas para mercadorias existentes em bitola ibérica. No traçado antigo, com curvas e pendentes, o rendimento energético é inferior a linhas construidas de traiz com limitação das pendentes a 1,2% e do raio das curvas a 5000 m. Claro que ele argumenta que se está a corrigir o perfil da linha da Beira Alta, e a criar refúgios para cruzamento de comboios de 740m, mas o que se gasta em linhas antigas para melhorar o seu rendimento, ainda por cima mantendo a sua via única, será desperdício quando se construir a linha nova.
Por outras palavras,  discordo do colega Carlos Fernandes quando diz que se atinge o objetivo da competitividade da ferrovia com a conclusão do programa 2020. Contas que fiz há uns anos (https://1drv.ms/p/s!Al9_rthOlbwehzNhuEExKreHeAex ) dão-me para o consumo de um comboio transportando 1400 toneladas de carga nas linhas existentes cerca de 52 Wh/ton-km o que compara com cerca de 32 Wh/ton-km em linhas de gradiante inferior a 1,2% e curvas de raios maiores que 5000m. Como o custo operacional é sensivelmente proporcional ao consumo de energia, deduzi que no primeiro caso (linha existente com bitola ibérica) o custo do transporte de 1 ton-km será de 1,67 centimos e , no segundo caso (linha nova com bitola UIC) de 1,2 centimos. Seria interessante comparar com os custos reais e com a anunciada melhoria devida às intervenções de modernização das linhas existentes.
A abordagem de Carlos Fernandes ao invocar o número de comboios que saem com as exportações é muito válida porque dar condições para o aumento das exportações é essencial para o país. 
Mas, para além do esclarecimento sobre os consumos energéticos (que são um fator crítico na operação e consequentemente nos processos de decisão), penso que também deverá ser esclarecida a sua afirmação de que saem atualmente 20 comboios por dia (deduzo que quase exclusivamente por  Vilar Formoso) . podendo desde já duplicar-se este número. 40 comboios que saem diariamente significa 80 comboios por dia em circulação. 
Contas que fiz também há tempos 
dão-me para a linha da Beira Alta, em via única, uma capacidade de 15 comboios por sentido para velocidade média de 70 km/h e 3 pontos de cruzamento; para 10 pontos de cruzamento a capacidade aumenta para 37 comboios por sentido. 
Ignoro quais os parâmetros utilizados no cálculo da IP, que me parece demasiado otimista.
Mais afirmou Carlos Fernandes que as obras em curso vão permitir num futuro próximo a saída diária de 70 comboios (140 comboios por dia nos 2 sentidos, provavelmente contando com as 3 ligações transfronteiriças, Valença, Vilar Formoso e Caia) e que isso poderá absorver "100% das mercadorias que saem para a Europa", parecem novamente afirmações otimistas. 
Ora, em 2020 as exportações para a Europa pelos modos terrestres foram de 16 milhões de toneladas, o que requereria 16.000 comboios por ano, ou à volta de 50 comboios diários, um comboio de meia em meia hora. 
Mas o que impressiona é que em 2020 as exportações por ferrovia para a Europa (incluindo  Espanha) foram em 163 mil toneladas, o que requer à volta de 160 comboios por ano ou 1 comboio de 2 em 2 dias. 
Como disse o presidente da Medway noutra altura 
o transbordo em Irun não será suportável quando se atingirem 2 comboios diários (cerca 700 mil toneladas de carga ). 
Mesmo  que se possa dispor da plataforma de Vitoria ligada por bitola UIC a França, a solução mais económica para o tráfego além Pirineus , para além de comboios de 740m,  será sempre a bitola UIC desde Portugal (conclusão de um estudo da própria IP : 

Também carece de esclarecimento a afirmação de que o modo ferroviário tem uma quota modal de 9% no transporte internacional de mercadorias. Vejamos este gráfico do comércio externo com França por modo de transporte, do relatório do observatório transfronteiriço com os dados de 2017:

 Vejamos dados mais recentes do INE para o ano 2020 :   C:/Users/Asus/Downloads/09Ativ%20Transportes%204T2020.pdf    

                    exportações para a Europa em milhões de toneladas em 2020 por modo :                                                                      marítimo      9,29 (35,1%)                                                                                                                              ferroviário    0,16 ( 0,6%)                                                                                                                              rodoviário   15,69   (59,2%)  

Se adicionarmos o transporte nacional em milhões de toneladas (8,49 pelo modo ferroviário e 114,30 pelo modo rodoviário, a quota modal ferroviária será 6,19% para a ferrovia e 93,81% para a rodovia;

se considerarmos o transporte nacional e internacional exportador em Mton-km, então teremos 2544 pela ferrovia (9,5%) contra 24200 pela rodovia (90,5%). No entanto, o texto está a falar em comércio internacional, pelo que penso dever a questão ser esclarecida. Igualmente na sua intervenção o presidente da Medway

(https://revistacargo.pt/plano-ferroviario-nacional-deve-ser-ambicioso-ferrovia-tem-margem-para-crescer/ )  

afirmou que a ferrovia tem 14% de quota de mercado. Considerando as exportações e importações, tivemos em 2020    35,7 milhões de toneladas para e de toda a Europa, sendo pela ferrovia apenas 0,72   (2,0%) . A quota ferroviária de exportações para Espanha é apenas de 1% contra 79,6% da rodovia.

 

Aparentemente, os valores apresentados pela IP e pela Medway pretenderão valorizar a ferrovia, o que será uma boa intenção, mas não parece realista, antes parecendo o velho hábito nacional de ganhar sempre nem que seja moralmente, e pela penúria, mostrando a necessidade de investimentos a sério conforme os regulamentos 1315 e 1316 com o evidentemente necessário cofinanciamento.

 

terça-feira, 6 de abril de 2021

Webinar da ADFERSIT sobre a nova travessia ferroviária do Tejo

 



Resumo das intervenções:

https://adfersit.pt/atividades/sessao/44/a-estacao-central-de-lisboa-e-o-novo-atravessamento-ferroviario-do-tejo

Video do webinar:

https://youtu.be/eOuW2zDtnkQ  

Comentário meu:

Mais uma vez, a ADFERSIT está de parabéns pela realização de mais um webinar de interesse público. Os princípios e os critérios que os oradores expuseram são efetivamente basilares para a abordagem correta de um problema, como referido, nacional e não apenas regional ou local. 

Relativamente ao conteúdo das intervenções, gostaria de destacar o que pareceu o consenso de que o plano ferroviário deverá prever , pelo menos a partir de 2030 e em franca cooperação com Espanha, a existência de duas redes, uma a existente, com melhorias, de bitola ibérica, e outra a construir, de acordo com os corredores TEN-T, em bitola UIC e com os restantes parâmetros da interoperabilidade europeia (de que se refere, pela sua dificuldade de compatibilização com o CONVEL, o ERTMS), a exemplo do que fez Espanha (ADIF rede convencional, ADIF rede AV). O que me parece é que, contrariamente ao referido, o atual governo, na senda dos anteriores, apenas prevê melhorias na rede existente ou, como no caso de Évora-Caia, construção de linha nova com travessas polivalentes e limitação da velocidade a 250 km/h. Prova disso foi a alteração da primeira proposta do prof.Costa Silva de construção da nova rede em bitola UIC para bitola ibérica com travessas polivalentes.  

Infelizmente, do meu ponto de vista, a atitude do governo é suportada pelos técnicos ao nível mais elevado da IP e CP, além dos operadores de mercadorias (embora já tenham afirmado publicamente o óbvio, que a bitola UIC seria o ideal nas ligações a França se o tráfego ultrapassar em Irun 2 comboios diários). A argumentação principal é o recurso às travessas polivalentes (embora o custo de uma primeira instalação mais o custo de uma segunda instalação seja superior ao de uma única instalação) e a fé no uso de vagões de eixos variáveis (que são de facto uma notável realização de engenharia, mas cuja vocação é a utilização no interior da península ibérica na interligação das duas redes. 

Cito este caso porque gostaria imenso de ver a ADFERSIT apresentar ao governo propostas concretas de cumprimento do Regulamento 1315 e do seu corredor atlântico até 2030. 

Relativamente ao tema da organização do território, julgo que se pode explorar a contribuição dos corredores norte e sul atlânticos de mercadorias como estímulo à fixação de industrias ao longo do seu traçado pelo interior do país, ao encontro do que foi referido no webinar, “España puede”, que é precisamente exemplo da pressão que os empresários de Valencia (e da Galiza, Asturias, Leão e de Euzkadi) exercem sobre o ministério do Fomento, a ponto do orçamento para 2021 do corredor mediterrânico ultrapassar em muito o do corredor atlântico (como referido no webinar, Espanha chama à linha para Badajoz a linha da Extremadura, mas o antigo ministro La Serna chamava-lhe a linha para Lisboa; a responsabilidade pela descoordenação Portugal-Espanha não  pode ser assacada a esta, infelizmente porque repete o caso da gestão fronteiriça das águas e das interligações elétricas quando o governo limita a capacidade negociadora dos técnicos em benefício da sua estratégia, ou falta dela). No caso português, é muito importante para o estímulo aos exportadores dispor de ligações ferroviárias à Europa central com o mínimo de perturbações operacionais nas fronteiras, numa altura em que o valor das exportações para o conjunto França e Alemanha supera o valor das exportações para Espanha e em que o objetivo comunitário para 2030 é a transferência de 30% do tráfego rodoviário de mercadorias para modos menos poluentes (é urgente preparar as nossas empresas de camionagem para o transporte de semirreboques em vagões). 

Verifiquei com agrado no webinar que se considera importante estudar na avaliação estratégica para o novo aeroporto mais hipóteses do que as anunciadas, sendo de destacar Rio Frio dada a proximidade a Poceirão e Pinhal Novo. 

Igualmente registei como importante a consideração da ligação quase em linha reta entre o CTA e a foz do Trancão, o que recomenda o estudo da geotecnia para a hipótese túnel, ao estilo das travessias do Báltico (parte túnel, parte aterro e ilha artificial, parte ponte), o que implica estudo conjunto com os ambientalistas dado tratar de ZPE e parte Reserva natural. 

Apreciei também a referência à imperiosidade das análises de custos benefícios e de evitar soluções de transitoriedades ou de menorização das limitações da rede existente. 

Pareceu-me notar uma divergência de apreciação que talvez conviesse esclarecer, que foi, por um lado, a crítica à criação de novas centralidades, com a qual pessoalmente concordo, e por outro, a apologia de cidades aeroportuárias, quando me parece que o novo aeroporto deve ser o mais simples possível e dispor do mínimo de infraestruturas, nomeadamente numa primeira fase, graças à construção de uma acessibilidade eficiente. 

Lateralmente, tendo sido referido um exemplo de sucesso apesar da ausência de planeamento (um terminal de cruzeiros servido pelo metropolitano), gostaria de comentar que planeamento houve, que foi a inclusão no plano de 1974 da ligação do metropolitano a Alcântara e, nos anos 90, a intenção de deslocalização do terminal de contentores de Alcântara para um novo porto de águas profundas entre a Cova do Vapor e o Bugio. O que aconteceu foi a decisão, exterior ao meio técnico, de obstrução à construção da linha de metro para Alcântara, de deslocalização do terminal de cruzeiros para onde havia metro, e de “eternização” do terminal de contentores em Alcântara. Isto é, pior ainda do que não haver planeamento, ou, como referido nas conclusões, um défice de governação de processos. 

Como seguimento, no contexto da preparação do plano nacional ferroviário, seria interessante a defesa da implementação da participação dos cidadãos, em vez de aguardarmos um documento preparado em secretismo ou participarmos em consultas públicas inúteis, e, em particular, que nessa participação se desça ao pormenor dos traçados e localizações das ligações suburbanas, de alta velocidade e dos aeroportos. 

 



As flores de e para a Holanda, e muito mais do que isso

 A primeira impressão que me ficou da leitura desta excelente reportagem

https://www.publico.pt/2021/01/30/economia/noticia/empresa-camioes-cresceu-transportar-flores-portugal-paises-baixos-1948482

foi a de que era preciso prestar homenagem às suas personagens, desde Manuela Sabio e o marido José Mota até ao mais humilde colaborador da Transwhite e das suas famílias, sujeitas a ausências próprias duma empresa internacional de transporte rodoviário de mercadorias.

Não é só o espírito de iniciativa, é também a inteligência com que o fazem.

Faz-me lembrar as feitorias da Flandres, um meio para aproximar os povos de Portugal e dos Paises Baixos, ultrapassando a cegueira das diplomacias, especialmente dos Habsburgos que se assenhorearam do poder em Espanha e que no início do século XVI quiseram submeter toda a Europa sem compreender que a ideia de Europa unida não podia ser essa e sem compreender que o objetivo era, do ponto de vista financeiro, suicidário. Os livros de história registam o mal que a politica dos Habsburgo fizeram à economia portuguesa, mas numa perspetiva patrioteira, não universalista.

Felizmente a Transwhite compreendeu que, tal como David Ricardo explicou, o comércio internacional é bom para os dois lados (desde que não exagerem nos preços e salários baixos, mas contra isso Adam Smith soube chamar a atenção para a responsabilidade social para além do egoismo de que todos beneficiariam), e estabeleceu uma feitoria nos Paises Baixos, em Oosterhout, a 40km de Roterdão e 60km de Antuérpia com 8 funcionários em permanencia e onde carregam os seus camiões brancos frigoríficos para a viagem de regresso   Importam flores de corte (antúrios, cravos, estrelícias, orquídeas) e exportam rosas, gerberas. As flores representam metade do volume de negócios. 

Repito, David Ricardo tinha razão, não ao isolacionismo, não inventem sanções económicas por isto e por aquilo, por mais candentes que sejam isto ou aquilo, discutam as divergências nas Nações Unidas.

Reparem que estando as instalações principais nas Caldas da Rainha, há outro entreposto em Albergaria a Velha, onde devia passar a nova linha Aveiro-Salamanca, para tráfego misto e interoperável conforme o regulamento 1315 das redes transeuropeias. 

São pessoas com visão estratégica. 

No fim da entrevista, perguntada como encarava as possíveis sanções ambientais sobre o transporte rodoviário, disse o que o governo e a IP já deviam estar a promover, que a solução é o transporte de camiões ou semirreboques em vagões, mas que não tinha grande esperança de ver isso em Portugal. Em Espanha e França já se alteraram as dimensões de túneis para os adaptar aos gabarits deste modo de transporte, e já ses fazem serviços para a Inglaterra e o Luxemburgo. Mas por cá, não é assunto.

Os vagões consistem numa plataforma que gira sobre um eixo vertical de modo a permitir o acesso dos reboques, puxados por um trator


segunda-feira, 5 de abril de 2021

Breves comentários ao arranque do ano internacional da ferrovia em 29mar2021

Devo confessar que esperava um pouco mais do "evento" kick off international year of the rail. Tal como esperado, a organização portuguesa , secundada por muitos dos intervenientes deram-lhe um carater de "charme", protestando que o caminho de ferro é o modo menos poluente (o que é verdade se a taxa de ocupação for adequada, a tecnologia atualizada e a fonte de energia for renovável) e o mais seguro (o que infelizmente não é verdade quando comparado com o avião porque, mesmo na Europa, deficiências de infraestruturas existem, como passagens de nível, caminhos pedonais não isolados das vias, encostas não protegidas, deficiências de sinalização ou ATP, incumprimento das normas, etc). Para além disso, desfilaram manifestações de intenção para o combate às alterações climáticas e descarbonização e para as necessárias transformações na ferrovia que isso exige.

Porém, pareceu-me faltar a apresentação de casos e projetos concretos para se atingir o objetivo repetido de uma área única europeia ferroviária onde a interoperabilidade fosse a elemento essencial. Falou-se muito em necessidade de ambição, de mudança de mentalidade, de capacidade de decisão, de transformação, de grandes investimentos com o apoio do plano de recuperação (não me pareceu ver aqui também propostas concretas), e não se disse, pelo menos no caso português, que o cofinanciamento só vem se forem apresentados anteprojetos credíveis com as necessárias análises de custos benefícios. Tão pouco nenhum participante teve dó deste país periférico sem dinheiro para construir ligações ferroviárias à Europa de acordo com as normas de interoperabilidade, o que provavelmente indicia que têm de ser os empresários portugueses a "puxar" pelas ligações interoperáveis  (também é um pouco estranho ninguém ter falado no regulamento 1315/2013).
Curioso o confronto entre o ministro PNS que depois de se ter orgulhado do trabalho feito disse que as diretivas de liberalização não tinham  resultado em progresso, o que depois foi contestado pelo representante da AllRail, mas foram todos simpáticos.
Interessante a senhora comissária dos Transportes Adina Valean ter falado no comboio Europe Express, a sair de Lisboa e passar por várias capitais divulgando a problemática e as virtudes das redes ferroviárias de passageiros e de mercadorias, para chegar a Liubliana, próxima capital da presidencia do conselho europeu, mas que iria exigir, infelizmente, 3 comboios diferentes (se percebi bem, uma vez que a minha compreensão de inglês de seminário é muito limitada e a organização economizou na tradução simultânea). 
Isto é, não é só a diferença de bitola entre Lisboa e Madrid, ou Lisboa e Irun, por essa Europa fora há necessidade de locomotivas bi ou tri tensão, com equipamento de sinalização e de ATP diferentes. Não é só o problema da bitola, também o ERTMS e a alimentação. 
Uns dirão que se pode deixar a bitola de fora graças ás travessas polivalentes e aos eixos variáveis, outros diráo por que cargas de água se há-de deixar a bitola de fora. 
Dir-se-á então que, falando-se do Plano nacional Ferroviário, era importante que se assumisse finalmente que a gestão orçamental da modernização das linhas seja completamente separada da gestão orçamental das linhas novas (6000 km para modernizar segundo a senhora comissária da Coesão Elisa Ferreira , e 580 000km de linhas novas para construir, embora a senhora comissária tenha lido apenas 580km) .
Cito ainda a senhora comissária da Coesão dizendo que nenhuma região pode ser deixada para trás (achará que a política deste governo privilegiando o litoral não está a deixar?).
Em resumo, o governo português terá obtido algum reforço de simpatia da Comissão Europeia e das entidades oficiais ferroviárias para com a sua política exclusiva de bitola ibérica, e os intervenientes terão justificado menos mal o seu trabalho. Será claramente pouco.

Ver as intervenções em (inicio no minuto 19.40; estranho ninguém ter apresentado um pequeno powerpoint que facilitasse a leitura dos números, mas terá sido decisão da organização):

programa do evento:

Alguns argumentos contra a construção de raíz das ligações ferroviárias à Europa em bitola europeia

  ALGUNS ARGUMENTOS CONTRA A CONSTRUÇÃO DE RAÍZ DAS LIGAÇÕES FERROVIÁRIAS À EUROPA EM BITOLA EUROPEIA O PRR prevê q...