quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Ainda a resposta da DG MOVE à carta para a Comissária - argumentos dos defensores da exclusividade da bitola ibérica

 

A carta enviada à Comissária dos Transportes em 30jul2020   (https://manifestoferrovia.blogspot.com/2020/08/carta-para-comissaria-europeia-de.html),  

motivou a resposta da DG Move em 3set2020 (https://manifestoferrovia.blogspot.com/2020/09/resposta-da-dg-move-em-nome-da.html )   

Divulgada esta correspondência, verificou-se na imprensa especializada uma manifestação de apoio à exclusividade da bitola ibérica. 

Ver por exemplo

https://revistacargo.pt/comissao-em-estreita-colaboracao-para-evolucao-coordenada-das-linhas-ferreas-ibericas/

Passou-se assim ao largo da afirmação na resposta da DG MOVE que até 2030 se construiria uma rede em bitola UIC em Portugal (o que já não parece possível dada a inexistencia de projetos e de um plano coordenado com Espanha) e não se referiu a aparente contradição entre a resposta e anteriores posições da própria DG MOVE (ver o relatório de março de 2019):

https://ec.europa.eu/transport/sites/transport/files/2019-transport-in-the-eu-current-trends-and-issues.pdf 

Transcreve-se da pág.65 deste relatório:

Issue 2 - Completion of Spain's rail TEN-T Core Network by 2030  - The completion of Spain's TEN-T rail Core Network by 2030 could raise concerns given the current pace of implementation. Cross-border rail traffic of freight trains from Spain into France and Portugal remains a bottleneck for completing the Atlantic and Mediterranean corridors. The different gauges used in the neighbouring countries constitute a key barrier to the improvement of Spain's rail connectivity. Increased cooperation between Spain, France and Portugal in the implementation of rail interoperability is underway to overcome these obstacles. 

Não consta que tenham sido dados passos no sentido de "overcame these obstacles" (muito difícil repudiar a ideia de que o governo português tem manipulado a informação enviada para Bruxelas). Ignorada esta contradição pela comunicação social, foi antes por ela dada enfase a dois argumentos, aliás utilizados na própria  resposta da DG MOVE à carta para  a Comissária.

Um é que os outros parâmetros da interoperabilidade são mais importantes do que a diferença de bitola e portanto esta pode ficar para depois. 

A aferição da importância já tinha sido feita pela IP citando um estudo do corredor atlantico com as estimativas da redução de custos nos percursos Leixões-Madrid, Leixões-Paris e Leixões-Mannheim devida a cada um dos fatores de interoperabilidade (25 kV, comprimento dos comboios, bitola, ERTMS). Ver quadro abaixo. 

De facto, se se pretender apenas explorar a peninsula ibérica, a bitola é irrelevante enquanto Espanha mantiver a rede ibérica. Mas considerando os percursos internacionais, a importância da bitola sobe para segundo em quatro. Isto é, o argumento só tem força se se restringirem os percursos à peninsula ibérica.

O outro argumento é apresentado como o aparecimento de soluções inovadoras para os vagões de mercadorias e no linkedin circulou a notícia de que a Transfesa organizou o transporte de automóveis entre Espanha e a Alemanha utilizando   vagões que podem circular em bitola ibérica e UIC (interessa à Medway). Ver         

https://www.railwaypro.com/wp/transfesa-put-into-service-high-capacity-automotive-wagons/

Poderia julgar-se  que eram eixos variáveis, mas não. Consultando o site do fabricante, Greenbrier, Polónia, verificou-se que se trata de eixos (rodados) que são substituidos com suspensão dos bogies nas zonas de transição . Ver  

https://www.gbrx.com/media/1434/y25_bogie_exchange.pdf   . 

Isto é, é uma solução já antiga e morosa, alternativa ao transbordo dos contentores com pórticos. Mantem-se portanto a validade do quadro citado pela IP.


 


Parecerá assim que o que separa fundamentalmente dos críticos  a posição oficial do XXII governo, IP e operadores, os quais defendem a exclusividade da bitola ibérica, é o prazo de implementação. Enquanto os primeiros defendem o início imediato dos estudos prévios e projetos para a concretização mais rápidamente razoável, os segundos adiam indefenidamente, provavelmente para 2 ou 3 décadas.

Entretanto, o grupo de subscritores enviou à Comissária segunda carta, em 21set2020, com vários anexos, solicitando aclaramentos. 
Ver em:

No seguimento desta segunda carta de 21set2020  para a Comissária foi recebida em 12out2020 da DG MOVE a resposta a essa segunda carta.

Transcreve-se a resposta da DG Move à segunda carta:


EUROPEAN COMMISSION

DIRECTORATE-GENERAL FOR MOBILITY AND TRANSPORT
Directorate B - Investment, Innovative & Sustainable Transport

The Director

                               Brussels, 12 october 2020

Dear Mr Lopes,
Dear Mr Neto,


I acknowledge receipt of your second letter to Commissioner Välean of 21 September. Commissioner Välean asked me to reply on her behalf.

As stated in the reply to your first letter, interoperability of rail within the Iberian Peninsula and with the rest of the EU is of high importance to the European Commission. Article 39.2.a (iv) of the TEN-T Regulation implies that the new high-speed lines between Lisbon and Madrid, Lisbon and Porto and Aveiro and Salamanca have to be constructed in UIC gauge. This may be achieved through the intermediate step of equipment with polyvalent sleepers and the later shifting to UIC gauge. With the provisions of the current TEN-T Regulation, Portugal is thus not becoming a rail island due to the Iberian gauge and the border crossings with Spain that are part of the core TEN-T network are guaranteeing the interconnection with the rest of the European rail network. The gradual transition from the Iberian gauge to the UIC gauge needs strong coordination between the two countries and the approach followed in Portugal is designed to maintain interoperability with Spain.

The Commission is fully aware of the investments that are being made in the Portuguese rail network. Moreover, given that the most significant works that are underway on the core TEN-T network in Portugal are co-financed by the Connecting Europe Facility, the fulfilment of all relevant European Regulations is being scrutinised.

Regarding your specific question about the certification of Iberian gauge, let me clarify that the Technical Specifications for Interoperability relating to Infrastructure (TSI Infra) consider four different possible gauges in the EU, one of them being the Iberian gauge   ( see https ://eur-lex.europa.eu/legal-content/EN/ALL/?uri=CELEX%3A32014Rl 299). According to the Interoperability Directive, the so-called Notified Body (NoBo) verifies the infrastructure against these TSI. The result of the verification is the "NoBo EC Certificate" issued by the NoBo as part of the authorisation process of the infrastructure. The certificate does not imply that the gauge is considered as interoperable with the UIC gauge. It implies that the characteristics of the infrastructure are in line with those of the TSI. The term interoperability in the Interoperability Directive is defined as the ability of a rail system to allow the safe and uninterrupted movement of trains which accomplish the required levels of performance.

As already stated in the reply to your first letter, please rest assured that we are pursuing all efforts, including through co-funding, to ensure the interoperability of rail within the Iberian Peninsula and with the rest of the EU, in line with the applicable Regulations and with a high degree of dedication and coordination from both the Portuguese and Spanish Governments and Infrastructure Managers.

Yours sincerely,



Herald RUIJTERS





Commission européenne/Europese Commissie, 1049 Bruxelles/Brussel, BELGIQUE/BELGIÉ - Tel. +32 22991 1 1 1 Office: DM28 06/ 1 09 - Tel. direct line +32 229-68372

Herald.RUlJTERS@ec.europa.eu



Tradução da resposta da DG Move à segunda carta:


COMISSÃO EUROPEIA

Direção Geral de Mobilidade e Transportes

Direção B – Investimentos, Inovação e Transporte sustentável

O Diretor

 

 

                                                                                        Bruxelas, 12 de outubro de 2020

MOVE/ARES(2020)6060971

 

                                                                                       

 

Caro Sr Lopes,

Caro Sr Neto

 

Acuso a receção da vossa segunda carta para a Comissária Valean de 21 de setembro. A Comissária Valean pediu-me para responder em seu nome.

Como referido na resposta à vossa primeira carta, a interoperabilidade da ferrovia no interior da Península Ibérica e com o resto da UE é de elevada importância para a Comissão Europeia.

O artigo 39.2.a (iv) do Regulamento 1315/2013 relativo às redes TEN-T implica que as novas linhas de alta velocidade entre Lisboa e Madrid, Lisboa e Porto e Aveiro e Salamanca têm de ser construídas com bitola UIC. Isso poderá ser atingido através de uma fase intermédia de instalação com travessas polivalentes e, mais tarde, mudança para bitola UIC.

Com as disposições do atual Regulamento TEN-T, Portugal não está portanto a tornar-se uma ilha ferroviária devido à bitola ibérica, e as travessias fronteiriças para Espanha, que fazem parte da rede principal TEN-T, estão a garantir a interligação com o resto da rede ferroviária europeia.

A transição gradual da bitola ibérica para a bitola UIC necessita de forte coordenação entre os dois países e a abordagem seguida por Portugal está planeada para manter a interoperabilidade com Espanha.

A Comissão está perfeitamente ciente dos investimentos que estão a ser feitos na rede ferroviária portuguesa. Além disso, dado que os trabalhos mais significativos que estão em curso na rede principal TEN-T em Portugal são cofinanciados pelo CEF (Connecting Europe Facility), a satisfação de todos os regulamentos europeus relevantes está sendo escrutinada.

Relativamente à vossa questão específica sobre a certificação da bitola ibérica, deixem-me clarificar que as Especificações Técnicas de Interoperabilidade (ETI) para a Infraestrutura  consideram quatro possíveis diferentes bitolas na UE, sendo uma delas a bitola ibérica (ver

https://eur-lex.europa.eu/legal-content/EN/ALL/?uri=CELEX%3A32014R1299         ). 

De acordo com a Diretiva de Interoperabilidade 2016/797, o denominado Organismo Notificado (Notified Body - NoBo) verifica a infraestrutura com essa ETI. O resultado da verificação é o certificado de verificação CE (NoBo EC Certificate) emitido pelo Organismo Notificado como parte do processo de autorização da infraestrutura. O certificado não implica que esta bitola seja considerada como interoperável com a bitola UIC. Implica que as caraterísticas da infraestrutura estão em linha com as caraterísticas da ETI. O termo “interoperabilidade” está definido na Diretiva de Interoperabilidade como a capacidade de um sistema ferroviário permitir o movimento de comboios seguro e ininterrupto segundo os níveis requeridos de desempenho.

Como referido na resposta à vossa primeira carta, por favor estejam certos de que estamos a desenvolver todos os esforços, incluindo através de cofinanciamento, para assegurar a interoperabilidade ferroviária dentro da Península Ibérica e com o resto da EU, em linha com os Regulamentos aplicáveis, e com um elevado grau de dedicação e coordenação de ambos os governos Português e Espanhol e dos gestores de infraestruturas.

 

Sinceramente vosso,

Herald RUIJTERS

 


 Mantendo-se a ausencia de garantia por parte da DG MOVE do cumprimento do prazo de 2030 para o plano das redesTEN-T na peninsula ibérica com interoperabilidade plena, incluindo a bitola UIC, nem indicação de data alternativa credível, o grupo de subscritores, considerando tal como uma ameaça para a economia, nomeadamente por causa das exportações, enviou 3ªcarta em 19out2020:



Dear Ms Adina Valean          

Commissioner for Transportation 

Email: cab-valean-contact@ec.europa.eu 

 

Address: Rue de la Loi / Wetstraat 200 

1049 Brussels 

Belgium 

                                                                            

Lisboa, 18 October 2020 

 

Subject: risk of Isolation of the Portuguese economy – clarification of the rail component of the TEN-T in Portugal 

 

Dear Commissioner Adina Valean: we would like to thank you for your letter dated 12 October 2020, that Mr Herald Ruijters wrote to us on your behalf 

We thank you for your answer to the question of our first letter: “The certificate does not imply that the gauge is considered as interoperable with the UIC gauge”. This is a very clear statement, we appreciate that very much, indeed. But we would like to understand what are the practical consequences of this: given that 

1.      the EU regulation 1315/2013 clearly states that the lines of the Core Network must be in UIC gauge. 

2.      the use of polyvalent sleepers, on its own, is no guarantee that the rail gauge will be changed from Iberian to UIC gauge. As you know this process implies that single lines cannot be operated during the works to change the position of the rails and replacement of switches and other equipments. Double lines will have their capacity reduced, probably more than 10 times, during that period. This may be unfeasible if the indirect costs, this is, the impact on the economy, is very strong due to lack of competitive and environmentally acceptable alternatives. 

3.      the official documents and statements of the portuguese Government show that there is no coordination with Spain nor intention of starting the introduction of the UIC gauge in the portuguese rail network before 2030 (nor afterwards, according to members of the Government and the railway manager, as we showed in our previous letter, dated 21 September 2020). 

can you please let us know if the costs of the construction and upgrading of lines of the Atlantic Corridor of the EU Core Network in Portugal in Iberian gauge are eligible to be co-financed by CEF? 

We also ask you to 

                      i.reaffirm the convenience of meeting the objective of building the Atlantic Corridor in UIC gauge by 2030 to the Portuguese Government and, mainly, to the portuguese public opinion. 

                    ii.avoid the waste of resources in solutions, namely single lines, that don´t serve the future needs of the portuguese economy and are incompatible with EU policies to transfer freight transportation in long distances (>300km) from the roads to rail and maritime transport. When the Atlantic Corridor is finished all lines should be double track, in UIC gauge, and competitive for both passenger traffic (high speed, as you refer in your letter dated 21 September 2020) and freight.  

                   iii.consider the above in the analysis of the Resilience and Recovery Plan the portuguese Government presented to the EU Commission a few days ago.

 

 

With best regards

 

Luis Mira Amaral 

Mário Lopes  

Arménio Matias  

Fernando Santos e Silva  

Joaquim Polido 

Luis Cabral da Silva 

Alberto Grossinho 

Mário Ribeiro 

Eugénio Menezes de Sequeira 

Fernando Mendes  

Henrique Neto 

Vitor Caldeirinha 

João Luis Mota Campos 

José Augusto Felício 

João Duque 

Carlos Sousa Oliveira 

Rui Carrilho Gomes 

António Gomes Correia 

José António Ferreira de Barros 

Luis Miguel Ribeiro 

Fernando Castro 

José Couto 

António Miguel Batista Poças da Rosa 

Rogério Hilário 

Tomás Moreira  

António Almeida Henriques 

José Ribau Esteves 

Ricardo Rio 

 


Tradução da 3ª carta enviada à Comissária:



Prezada Senhora Adina Valean

Comissária para os Transportes

Email: cab-valean-contact@ec.europa.eu

Endereço: Rue de la Loi / Wetstraat 200

1049 Brussels

Belgium

 

Lisboa, 18 de outubro de 2020

 

Assunto: Risco de isolamento da economia portuguesa – clarificação da componente ferroviária das redes TEN-T em Portugal

 

 Cara Comissária Adina Valean: queremos agradecer a vossa carta de 12 de outubro de 2020 que o senhor Herald Ruijters nos endereçou em vosso nome.

Agradecemos a vossa resposta à questão da nossa primeira carta: “O certificado não implica que a bitola seja considerada como interoperável com a bitola UIC”. Esta é uma declaração muito clara, que muito apreciámos. Mas gostaríamos de compreender quais são as consequências práticas disso: dado que

1. o Regulamento 1315/2013(CE) estabelece claramente que as linhas da rede principal devem ser em bitola UIC

2. a utilização de travessas polivalentes, em si mesmo, não garante que a bitola venha a ser mudada de ibérica para UIC. Como V.Exa sabe, este processo implica que linhas de via única não podem funcionar durante os trabalhos de mudança da posição dos carris e de substituição dos aparelhos de mudança de via e outros equipamentos. Linhas de via dupla terão a sua capacidade reduzida, provavelmente mais de 10 vezes, durante esse período. Isto pode ser inviável se os custos indiretos, isto é, o impacto na economia, for muito forte devido à falta de alternativas competitivas e ambientalmente aceitáveis

3. os documentos e as declarações oficiais do Governo português mostram que não existe coordenação com Espanha nem intenção de iniciar a introdução da bitola UIC na rede ferroviária portuguesa antes de 2030 (nem depois, segundo membros do Governo e da gestora da infraestrutura, como mostrámos na nossa carta anterior, de 21 de setembro de 2020)

pode, por favor, informar-nos se os custos de construção e de modernização das linhas em bitola ibérica do Corredor Atlântico da rede principal TEN-T em Portugal são elegíveis para serem cofinanciadas pelo CEF?

Também lhe pedimos que:

                        i) reafirme a conveniência de atingir o objetivo de até 2030 construir o Corredor                                 Atlântico em bitola UIC junto do Governo português e, principalmente, junto da opinião                         pública portuguesa

 ii) evite o desperdício de recursos em soluções, nomeadamente de vias únicas, que não servem as futuras necessidades da economia portuguesa e que são incompatíveis com as políticas da UE para transferência do transporte de mercadorias em longas distancias (> 300 km) da rodovia para a ferrovia ou via marítima. Quando o Corredor Atlântico estiver concluído todas as linhas deverão ser de via dupla, em bitola UIC, e competitivas tanto para tráfego de passageiros (alta velocidade, como referido na vossa carta de 21 de setembro de 2020) como de mercadorias

iii) considere o exposto acima na vossa análise do Plano de Recuperação e Resiliência apresentado há poucos dias à Comissão Europeia pelo Governo português. 

 

Com os melhores cumprimentos

 

Luis Mira Amaral
Mário Lopes
Arménio Matias
Fernando Santos e Silva
Joaquim Polido
Luis Cabral da Silva
Alberto Grossinho
Mário Ribeiro
Eugénio Menezes de Sequeira
Fernando Mendes
Henrique Neto
Vitor Caldeirinha
João Luis Mota Campos
José Augusto Felício
João Duque
Carlos Sousa Oliveira
Rui Carrilho Gomes
António Gomes Correia
José António Ferreira de Barros
Luis Miguel Ribeiro
Fernando Castro
José Couto
António Miguel Batista Poças da Rosa
Rogério Hilário
Tomás Moreira
António Almeida Henriques
José Ribau Esteves
Ricardo Rio





 Em 18 de novembro de 2020 foi recebida a resposta da DG MOVE à 3ª carta de 18out2020.

Não foi considerada nessa resposta a conveniencia de cumprimento da data 2030 nem indicada uma data possível para esse cumprimento. O que aliás só seria razoável em articulação com o coordenador do corredor atlântico, que no seu relatório de maio de 2020 se limita a constatar o incumprimento por parte de Portugal e a estimar o impacto negativo no PIB:

https://ec.europa.eu/transport/sites/transport/files/atlworkplanivweb.pdf

A resposta por um lado garante o objetivo do corredor atlântico com bitola UIC , mas por outro lado aceita a instalação no troço Évora-Caia de travessas polivalentes em bitola ibérca sem definir um prazo para mudança para UIC.

Conhecida a prática em Portugal de prolongar indefenidamente as soluções provisórias e considerando o longo período de elaboração dos projetos e de execução das obras, isso quer dizer que não será previsivel a médio prazo a instalação de linhas interoperáveis coma Europa além Pirineus.

Isto parece-nos contrariar efetivamente os regulamentos 1315 e 1316 . Igualmente discordamos frontalmente da afirmação que existe coordenação entre Portugal e Espanha nas cimeiras e através do AVEP (agrupamento europeu de interesse económico Alta Velocidade Espanha-Portugal) quando não se coordenou um calendário para a bitola UIC, contrariamente ao que faz Espanha no Y basco e no corredor mediterranico. 

Estas circunstancias podem constituir motivo para um processo de infração. Razão por que os próximos passos serão o contacto com a ERA (European Railway Agency), a INEA (Innovation and Networks Executive Agency), ECA (European Court of Auditors) e finalmente o European Ombudsman (provedor de justiça europeu) e o EPP (European Public Prossecutor - Procurador Europeu, por motivo de prejuízo para os interesses financeiros da UE e incumprimento da legislação europeia, considerando que os regulamentos são vinculativos e não estão a ser cumpridos).

É o seguinte o texto da resposta da DG MOVE à nossa 3ª carta para a Comissária, de 18out2020:


EUROPEAN COMMISSION DIRECTORATE-GENERAL FOR MOBILITY AND TRANSPORT Directorate B - Investment, Innovative & Sustainable Transport

The Director

Brussels, 18 November 2020

MOVE/B/IMazAres(2020)7321894

Mr Mário LOPES mariolopes@tecnico.ulisboa.pt

Mr Henrique NETO henriquejosesousaneto@gmail.com

Sent by e-mail only

 

Dear Mr Lopes,

Dear Mr Neto,

I acknowledge receipt of your third letter to Commissioner Vălean of 18 October 2020. Commissioner Vălean asked me to reply on her behalf.

As a reminder, already written to you in the replies to your previous two letters, interoperability of rail within the Iberian Peninsula and with the rest of the EU is of high importance to the European Commission. Article 39.2.a (iv) of the TEN-T Regulation implies that the new high-speed lines between Lisbon and Madrid, Lisbon and Porto and Aveiro and Salamanca have to be constructed in UIC gauge. This may be achieved through the intermediate step of equipment with polyvalent sleepers and the later shifting to UIC gauge. With the provisions of the TEN-T Regulation, Portugal is not becoming a rail island due to the Iberian gauge and the border crossings with Spain that are part of the core TEN-T network are guaranteeing the interconnection with the rest of the European rail network. The gradual transition from the Iberian gauge to the UIC gauge requires strong coordination between the two countries and the approach currently followed in Portugal is designed to maintain interoperability with Spain. The Commission is fully aware of the investments that are being made in the Portuguese rail network and, given that the most significant works that are underway on the core TEN-T network are co-financed by the Connecting Europe Facility, the fulfilment of all relevant European Regulations is being scrutinised.

Regarding the specific questions and points of your third letter:

· As already explained in the reply to your second letter, the certificate that can be issued by the national notified body under the Interoperability Directive does not imply that the gauge is considered as interoperable with the UIC gauge. It implies that the characteristics of the infrastructure are in line with those of the Technical Specifications for Interoperability relating to Infrastructure i.e. that the rail system of the country allows the safe and uninterrupted movement of trains which accomplish 2 the required levels of performance. There is therefore no contradiction with EU Regulation 1315/2013 which foresees that the new lines to be built on the TEN-T network must be in UIC gauge. Once again, this may be achieved through the intermediate step of equipment with polyvalent sleepers and the later shifting to UIC gauge. Line upgrades may also be with polyvalent sleepers or third rail.

· Contrary to your statement on that topic, I re-affirm to you that there is strong coordination between Portugal and Spain through, amongst others, their bilateral summits and AVEP.

· The fact that it will take some time to change the position of rails on polyvalent sleepers to go from Iberian to UIC gauge and that this may cause disruptions of traffic especially on single lines, is the case for all rail works, including maintenance works, everywhere in the EU. In many if not all cases, solutions are put in place to minimize or avoid those disruptions (for example, works conducted during the night, traffic diverted on other lines, transhipment to trucks etc.).

· As you very well know, CEF is already co-financing upgrades of Iberian lines on the Atlantic Corridor in Portugal. For the moment those upgrades are realized with polyvalent sleepers in order to maintain interoperability with Spain. From Spain, Iberian gauge trains are transhipped on UIC rolling stock to move the freight to France and further on. The same from France to the Iberian Peninsula. This will disappear when Iberian lines are gradually and in a coordinated way between Portugal and Spain upgraded to UIC gauge and/or when operators will use variable axle gauge rolling stock. In any case, there are no barriers already today to travel or carry by train from the Iberian Peninsula to the rest of Europe and vice-versa and Portugal, Spain and the European Commission will ensure that this continues to be the case.

 

Yours sincerely,

Herald RUIJTERS

 

 Electronically signed on 18/11/2020 12:28 (UTC+01) in accordance with article 11 of Commission Decision C(2020) 4482



Tradução desta resposta da DG Move à 3ª carta para a Comissária:


COMISSÃO EUROPEIA – DIREÇÃO GERAL PARA A MOBILIDADE E TRANSPORTE Direção B – Investimento, Inovação e Transporte Sustentável

O Diretor

Bruxelas, 18 de novembro de 2020

MOVE/B/IMazAres(2020)7321894

 

Mr Mário LOPES                               mariolopes@tecnico.ulisboa.pt

Mr Henrique NETO                          henriquejosesousaneto@gmail.com

Enviado apenas por email

 

Caros Senhores Lopes e Neto

 

Acuso a receção da vossa terceira carta para a Comissária Valean de 18 de outubro de 2020. A Comissária Valean pediu-me para responder em seu nome.

Como recordatória, já expressa nas respostas às vossas cartas anteriores, a interoperabilidade da ferrovia no interior da Península Ibérica e com o resto da UE reveste-se de elevada importância para a Comissão Europeia. O artigo 39.2.a(iv) do Regulamento TEN-T implica que as novas linhas de alta velocidade entre Lisboa e Madrid, Lisboa e Porto e Aveiro e Salamanca têm de ser construidas em bitola UIC. Isso pode ser conseguido através duma etapa intermédia com a instalação de travessas polivalentes e uma posterior mudança para a bitola UIC. Com as disposições do Regulamento TENT, Portugal não se está a tornar uma ilha ferroviária devido à bitola ibérica, e as travessias da fronteira com Espanha, que são parte da rede básica (“core”) TEN-T, garantem a interligação com o resto da rede ferroviária europeia. A transição gradual da bitola ibérica para a bitola UIC requer uma forte coordenação entre os dois países, e a abordagem atualmente seguida em Portugal está concebida para manter a interoperabilidade com Espanha. A Comissão tem pleno conhecimento dos investimentos que estão a ser realizados na rede ferroviária portuguesa e, dado que as obras mais significativas em curso na rede básica TEN-T são cofinanciadas pelo Mecanismo Interligar a Europa (CEF), o cumprimento de todos os Regulamentos Europeus relevantes é escrutinado.

Relativamente às perguntas e pontos específicos da vossa terceira carta:

· Conforme já explicado na resposta à vossa segunda carta, o certificado que pode ser emitido pelo organismo notificado nacional ao abrigo da Diretiva da Interoperabilidade não implica que a bitola seja considerada interoperável com a bitola UIC. Implica que as caraterísticas da infraestrutura estão em consonância com as das Especificações Técnicas de Interoperabilidade (TSI) para a Infraestrutura, ou seja, que o sistema ferroviário do país permite a circulação segura e ininterrupta de comboios que cumpram os níveis requeridos de desempenho. Não existe, portanto, qualquer contradição com o Regulamento 1315/2013, o qual prevê que as novas linhas a serem construídas na rede TEN-T devem ser em bitola UIC. Uma vez mais, isso pode ser conseguido através duma etapa intermédia com a instalação de travessas polivalentes e uma posterior mudança para a bitola UIC. A modernização de linhas pode também fazer-se com travessas polivalentes ou com terceiro carril.

· Contrariamente à vossa afirmação sobre esse tópico, reafirmo que existe uma forte coordenação entre Portugal e Espanha através, por exemplo, das cimeiras bilaterais e do agrupamento europeu de interesse económico AVEP (Alta Velocidade Espanha Portugal)

· O facto de demorar algum tempo para mudar a posição dos carris nas travessas polivalentes para passar de bitola ibérica para bitola UIC e que isso possa causar perturbações no tráfego, especialmente em linhas de via única, é o caso em todos os trabalhos em vias férreas, incluindo as intervenções de manutenção, em toda a UE. Em muitos casos, senão todos, são postas em prática soluções para minimizar ou evitar essas perturbações (por exemplo, trabalhos em regime noturno, desvio do tráfego para outras linhas, transbordo para camiões, etc.)

· Como bem sabem, o mecanismo CEF está já a cofinanciar a modernização de linhas em bitola ibérica no Corredor Atlântico em Portugal. De momento esta modernização é realizada com travessas polivalentes de modo a manter a interoperabilidade com Espanha. Em Espanha faz-se o transbordo dos comboios de bitola ibérica para os comboios de bitola UIC para seguimento das mercadorias para França e mais além. O mesmo de França para a Península Ibérica. Isso desaparecerá quando as linhas de bitola ibérica forem progressivamente e de forma coordenada entre Portugal e Espanha modernizadas para bitola UIC e, ou, quando os operadores usarem material circulante de eixos variáveis. De qualquer modo, hoje já não há barreiras para viajar ou transportar mercadorias por comboio da Península Ibérica para o resto da Europa e vice-versa. Portugal, Espanha e a Comissão Europeia assegurarão que assim continuará a ser.

 

 

Com os melhores cumprimentos

 

Herald Ruijters

 

 

 

Assinado eletronicamente em 18/11/2020 12:28 (UTC+01) de acordo com o artigo 11 da Decisão da Comissão C (2020) 4482





No seguimento desta resposta, e  para encerrar a troca de correspondencia, que reputámos útil mas indiciadora de sintonia parcial da DG MOVE com a politica do governo português e transigencia com a politica espanhola, foi enviada a seguinte 4ª carta:

Dear Ms Adina Valean

Commissioner for Transportation Email: cab-valean-contact@ec.europa.eu

Address: Rue de la Loi / Wetstraat 200

1049 Brussels

Belgium

Lisboa, 9 december 2020

Subject: risk of Isolation of the Portuguese economy – clarification of the vrail component of the TEN-T in Portugal

Dear Commissioner Adina Valean: we would like to thank very much for your 3rd answer to our letters, dated 18 November 2020, that Mr Herald Ruijters wrote to us on your behalf.

In this letter we only highlight the main political conclusions (not exhaustive) that can be drawn from your previous letters on the issue referred above, and make some comments on those. Therefore, we don’t ask for an answer to this letter.

1 – The EU support for the policies of the Portuguese government for the change of the rail gauge is technically and economically ill-founded: on your last letter it is written “The fact that it will take some time to change the position of rails on polyvalent sleepers to go from Iberian to UIC gauge and that this may cause disruptions of traffic especially on single lines, is the case for all rail works, including maintenance works, everywhere in the EU”. In normal rail works, usually the traffic flows are usually interrupted for only a few hours, as these type of works can be done in small parts of the lines. In some more difficult situations, parts of a double line may have to work as a single line for several days to work on the other track. But in both cases, these short disruptions don´t interrupt the flow of trains for a long time. The works to change the position of the rails from the Iberian to UIC gauge in lines with polyvalent sleepers cannot be done only in small parts of a line, as trains would not be able to circulate along the entire line. The continuous flow of trains will only be possible after the position of the rails is changed in the whole line. Therefore, the line will be out of service not during a few hours, but probably months, because traffic has to be interrupted from the beginning to the end of the works in that line. Depending on the alternatives, in some cases, the economic and environmental consequences of this long interruptions of rail operations may be unbearable for

the economy. Therefore, your comparison of the impact of works to change the rail gauge with other rail works is ill-founded, leading to policies that are creating situations that in the future will very difficult and expensive to solve.

2 – There is an agreement between the EU Commission and the Member States to finish the railway lines of the EU Core Network (in UIC gauge) until 2030. It is not known in which decade or century that will be done in Portugal, as there this no deadline and calendared plan for that. In fact, regarding the introduction of the UIC gauge in the international lines of the Atlantic Corridor, this is the only result of what you designated on your last letter as “strong coordination between Portugal and Spain”: the only known fact is that the Portuguese government has no intention or investment plan to start the introduction of the UIC gauge in the Portuguese lines of the EU Core Network before 2030 (see Annex 1 of our second letter, dated 21st September 2020), the date in which this should be finished. This is incompatible with EU regulation 1315/2013, therefore it is illegal as Portugal has received and it is going to continue to receive CEF Funds for this purpose (we asked this in our previous letter and your letter does not deny it). The EU Commission is perfectly aware of the above.

3 – On your last letter, it is written “there are no barriers already today to travel or carry by train from the Iberian Peninsula to the rest of Europe and vice-versa and Portugal, Spain and the European Commission will ensure that this continues to be the case”. The difference of rail gauge is a technical barrier. Even though it does not make it impossible to carry goods by rail between Portugal and the rest of Europe in small quantities (the gauge problem being solved mainly by means of transhipment of containers at the French-Spanish border), it destroys the competitiveness of international rail freight transport from/to Portugal, and therefore isolates the Portuguese economy from its main trade partners (the rest of Europe), condemning the portuguese people to impoverishment. The goal of our letters was to ask to stop the EU support to this policy, not the opposite.

With best regards 


António Almeida Henriques, Presidente da Câmara Municipal de Viseu (http://www.cm-viseu.pt/) 

José Ribau Esteves, Presidente da Câmara Municipal de Aveiro (https://www.cm-aveiro.pt/) 

Ricardo Rio, Presidente da Câmara Municipal de Braga (https://www.cm-braga.pt/pt)

José António Ferreira de Barros,, empresário, Ex Presidente da AEP (Associação Empresarial de Portugal - https://www.aeportugal.pt/)

Luis Miguel Ribeiro, Presidente da AEP (Associação Empresarial de Portugal, https://www.aeportugal.pt/)

Fernando Castro, Presidente da AIDA, (Associação Industrial do Distrito de Aveiro, http://aida.pt/)

José Couto, Presidente da AFIA (Associação dos Fabricantes para a Indústria Automóvel, https://afia.pt/) e do CEC (Conselho Empresarial do Centro, http://www.cec.org.pt/)

António Miguel Batista Poças da Rosa, Presidente da NERLEI (Associação Empresarial da Região de Leiria, https://www.nerlei.pt/)

Rogério Hilário, Vice-Presidente do CEC (Conselho Empresarial do Centro, http://www.cec.org.pt/)

Tomás Moreira (Ex Presidente da AFIA, Associação dos Fabricantes para a Indústria Automóvel)

Luis Mira Amaral, ex Ministro da Indústria (1985-1995)

Mário Lopes – Civil Engineer, Assistant Professor at Instituto Superior Técnico (IST) former President of the Association for the development of Integrated Transport Systems (ADFERSIT)

Arménio Matias - Engº electrotécnico, fundador e Ex Presidente da Associação para o Desenvolvimento do Transporte Ferroviário (ADFER), Ex Administrador da CP (Comboios de Portugal, https://www.cp.pt/institucional/pt/empresa)

Fernando Santos e Silva, Engº electrotécnico, Ex responsável no Metropolitano de Lisboa pelos processos de homologação dos novos troços Joaquim Polido, Ex Presidente da Fernave (http://www.fernave.pt/), Ex Presidente da ADFERSIT, Ex quadro superior da CP

Luis Cabral da Silva, Engº electrotécnico, gestor, Ex- quadro superior da REFER (Rede Ferroviária Nacional, actual IP, https://www.infraestruturasdeportugal.pt/), especialista em Transportes e Vias de Comunicação

Acúrcio Santos, Engº electrotécnico, Ex-Director de material circulante e Ex Director dos Serviços Regionais da CP

Alberto Grossinho, Engº mecânico. Principais funcões desempenhadas na REFER (Rede Ferroviária Nacional), entre 1970 e 2011: Director Geral Adjunto para a Segurança, Director de Circulação, e elemento de ligação ao IMTT (Instituto da Mobilidade e Transportes Terrestres) para as questões de interoperabilidade.

Mário Ribeiro, Engº mecânico, Ex quadro superior da TAP no serviço de manutenção

Eugénio Menezes de Sequeira, Engº Agrónomo, Investigador Coordenador aposentado do Instituto Nacional de Investigação Agrária, Ex Presidente da Liga para a Protecção da Natureza, Membro da Comissão de Ambiente da Sociedade de Geografia de Lisboa

Fernando Mendes – Engº electrotécnico, empresário

Henrique Neto, empresário

Vitor Caldeirinha, Ex Presidente da Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra, Ex Presidente da Associação de Portos de Portugal e Ex Presidente da ADFERSIT

João Luis Mota Campos, Ex Secretário de Estado da Justiça (2002-2004)

José Augusto Felício, Professor do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG)

João Duque, Professor Catedrático do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG)

Carlos Sousa Oliveira, Professor Catedrático Jubilado do Instituto Superior Técnico (IST)

Rui Carrilho Gomes, Professor do Instituto Superior Técnico (IST)

António Gomes Correia, Professor Catedrático da Universidade do Minho (UM)



Tradução desta 4ª carta:


Cara Senhora Adina Valean

Comissária para os Transportes

Email: cab-valean-contact@ec.europa.eu

Endereço: Rue de la Loi / Wetstraat 200

1049 Brussels

Belgium

 

Lisboa, 9 de Dezembro de 2020

 

Assunto: Risco de isolamento da economia portuguesa – clarificação da componente ferroviária da rede TEN-T em Portugal

 

Cara Comissária Adina Valean

 

Muito gostaríamos de agradecer a vossa terceira resposta às nossas cartas, datada de 18 de novembro de 2020, que Mr Herald Ruijters nos remeteu em seu nome.

Nesta carta, apenas destacamos as principais conclusões políticas (não exaustivas) que podem ser extraídas das vossas cartas anteriores sobre o assunto acima referido, e fazemos alguns comentários sobre elas.

Não pedimos, portanto, uma resposta à presente carta.

1 - O apoio da UE às políticas do Governo português para a mudança da bitola é técnica e economicamente mal fundamentado. Na vossa última carta está escrito “O facto de demorar algum tempo para mudar a posição dos carris nas travessas polivalentes para passar de bitola ibérica para bitola UIC e que isso possa causar perturbações no tráfego, especialmente em linhas de via simples, é o caso em todos os trabalhos em vias férreas, incluindo as intervenções de manutenção, em toda a UE.” Normalmente, nos trabalhos ferroviários, os fluxos de tráfego são interrompidos por apenas algumas horas, pois os trabalhos podem ser feitos somente em pequena parte da linha. Nalgumas situações mais difíceis, parte de uma linha dupla pode ter de funcionar como via simples durante vários dias para permitir os trabalhos na outra via. Mas em ambos os casos essas curtas perturbações não interrompem o fluxo de tráfego por muito tempo. Os trabalhos de mudança da posição dos carris da bitola ibérica para UIC em linhas de via única com travessas polivalentes não podem ser feitos apenas numa pequena parte da linha porque os comboios não poderiam circular ao longo de toda a linha. O fluxo contínuo dos comboios só será possível após a alteração da posição dos carris em toda a linha. Portanto, a linha ficará fora de serviço não durante algumas horas, mas provavelmente meses, porque o tráfego terá de ser interrompido do início ao fim dos trabalhos nessa linha. Dependendo das alternativas, em alguns casos, as consequências económicas e ambientais dessas longas interrupções da operação ferroviária podem ser insuportáveis para a economia. Portanto, a vossa comparação do impacto dos trabalhos de mudança de bitola com outras obras ferroviárias é infundada, levando a políticas geradoras de situações que no futuro serão muito difíceis e caras de resolver.

2 - Existe um acordo entre a Comissão Europeia e os Estados-Membros para terminar as linhas ferroviárias da Rede Principal da UE (em bitola UIC) até 2030. Não se sabe em que década ou século isso será feito em Portugal, dado que não há nenhum prazo nem um plano calendarizado para tal. Com efeito, relativamente à introdução da bitola UIC nas linhas internacionais do Corredor Atlântico, esse é o único resultado daquilo que V.Exas designaram na vossa última carta como “forte coordenação entre Portugal e Espanha”: o único facto conhecido é que o governo português não tem intenção nem plano de investimento para iniciar a introdução da bitola UIC nas linhas portuguesas da Rede Principal (“core”) da UE antes de 2030, data em que deveria estar concluída (ver o Anexo 1 da nossa segunda carta, de 21 de setembro de 2020). Isto é incompatível com o regulamento da UE 1315/2013, portanto ilegal, uma vez que Portugal recebeu e vai continuar a receber fundos CEF para o efeito (já o questionámos na nossa carta anterior e a vossa carta não o nega). A Comissão Europeia está perfeitamente ciente desta questão.

3 - Na vossa última carta está escrito “hoje já não há barreiras para viajar ou transportar mercadorias por comboio da Península Ibérica para o resto da Europa e vice-versa. Portugal, Espanha e a Comissão Europeia assegurarão que assim continuará a ser". A diferença de bitola é uma barreira técnica. Apesar de não impossibilitar o transporte ferroviário de mercadorias entre Portugal e o resto da Europa em pequenas quantidades (sendo o problema da bitola resolvido principalmente por meio do transbordo de contentores na fronteira franco-espanhola), destrói a competitividade internacional do transporte ferroviário de mercadorias de e para Portugal, isolando assim a economia portuguesa dos seus principais parceiros comerciais (o resto da Europa), e condenando o povo português ao empobrecimento. O objetivo das nossas cartas era pedir para parar o apoio da UE a esta política, e não o contrário.

 

Com os melhores cumprimentos

 

António Almeida Henriques, Presidente da Câmara Municipal de Viseu (http://www.cm-viseu.pt/ ) e Vice-Presidente da ANMP (Associação Nacional dos Municípios Portugueses)

José Ribau Esteves, Presidente da Câmara Municipal de Aveiro (https://www.cm-aveiro.pt/)

Ricardo Rio, Presidente da Câmara Municipal de Braga (https://www.cm-braga.pt/pt)

José António Ferreira de Barros, empresário, Ex Presidente da AEP (Associação Empresarial de Portugal - https://www.aeportugal.pt/)

Luis Miguel Ribeiro, Presidente da AEP (Associação Empresarial de Portugal, https://www.aeportugal.pt/)

Fernando Castro, Presidente da AIDA, (Associação Industrial do Distrito de Aveiro, http://aida.pt/)

José Couto, Presidente da AFIA (Associação dos Fabricantes para a Indústria Automóvel, https://afia.pt/)  e do CEC/CICC (Conselho Empresarial do Centro, Câmara de Comércio da Região Centro, http://www.cec.org.pt/ )

António Miguel Batista Poças da Rosa, Presidente da NERLEI (Associação Empresarial da Região de Leiria, https://www.nerlei.pt/  )

Rogério Hilário, Vice-Presidente do CEC/CICC (Conselho Empresarial do Centro, Câmara de Comércio da Região Centro, http://www.cec.org.pt/ )

Tomás Moreira (Ex Presidente da AFIA, Associação dos Fabricantes para a Indústria Automóvel)

 Luis Mira Amaral, ex Ministro da Indústria (1987-1995)

Mário Lopes – Engº civil, Prof. do Instituto Superior Técnico (IST), Ex Presidente da Associação para o Desenvolvimento de Sistemas Integrados de Transportes (ADFERSIT)

Arménio Matias - Engº electrotécnico, fundador e Ex Presidente da Associação para o Desenvolvimento do Transporte Ferroviário (ADFER), Ex Administrador da CP (Comboios de Portugal, https://www.cp.pt/institucional/pt/empresa )

Fernando Santos e Silva, Engº electrotécnico, Ex responsável no Metropolitano de Lisboa pelos processos de homologação dos novos troços

Joaquim Polido, Ex Presidente da Fernave (http://www.fernave.pt/ ), Ex Presidente da ADFERSIT, Ex quadro superior da CP

Luis Cabral da Silva, Engº electrotécnico, gestor, Ex- quadro superior da REFER (Rede Ferroviária Nacional, actual IP, https://www.infraestruturasdeportugal.pt/ ), especialista em Transportes e Vias de Comunicação

Alberto Grossinho, Engº mecânico. Principais funcões desempenhadas na REFER (Rede Ferroviária Nacional), entre 1970 e 2011: Director Geral Adjunto para a Segurança, Director de Circulação, e elemento de ligação ao IMTT (Instituto da Mobilidade e Transportes Terrestres) para as questões de interoperabilidade

Mário Ribeiro, Engº mecânico, Ex quadro superior da TAP no serviço de manutenção

Eugénio Menezes de Sequeira, Engº Agrónomo, Investigador Coordenador aposentado do Instituto Nacional de Investigação Agrária, Ex Presidente da Liga para a Protecção da Natureza, Membro da Comissão de Ambiente da Sociedade de Geografia de Lisboa

Fernando Mendes – Engº electrotécnico, empresário

Henrique Neto, empresário, Ex deputado e Ex candidato a Presidente da República

Vitor Caldeirinha, Ex Presidente da Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra, Ex Presidente da Associação de Portos de Portugal e Ex Presidente da ADFERSIT

João Luis Mota Campos, advogado, Ex Secretário de Estado da Justiça (2002-2004)

José Augusto Felício, Professor Catedrático do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG)

João Duque, Professor Catedrático do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG)

Carlos Sousa Oliveira, Professor Catedrático Jubilado do Instituto Superior Técnico (IST)

Rui Carrilho Gomes, Professor do Instituto Superior Técnico (IST)

António Gomes Correia, Professor Catedrático da Universidade do Minho (UM)



Sem comentários:

Enviar um comentário

Alguns argumentos contra a construção de raíz das ligações ferroviárias à Europa em bitola europeia

  ALGUNS ARGUMENTOS CONTRA A CONSTRUÇÃO DE RAÍZ DAS LIGAÇÕES FERROVIÁRIAS À EUROPA EM BITOLA EUROPEIA O PRR prevê q...