segunda-feira, 5 de abril de 2021

Breves comentários ao arranque do ano internacional da ferrovia em 29mar2021

Devo confessar que esperava um pouco mais do "evento" kick off international year of the rail. Tal como esperado, a organização portuguesa , secundada por muitos dos intervenientes deram-lhe um carater de "charme", protestando que o caminho de ferro é o modo menos poluente (o que é verdade se a taxa de ocupação for adequada, a tecnologia atualizada e a fonte de energia for renovável) e o mais seguro (o que infelizmente não é verdade quando comparado com o avião porque, mesmo na Europa, deficiências de infraestruturas existem, como passagens de nível, caminhos pedonais não isolados das vias, encostas não protegidas, deficiências de sinalização ou ATP, incumprimento das normas, etc). Para além disso, desfilaram manifestações de intenção para o combate às alterações climáticas e descarbonização e para as necessárias transformações na ferrovia que isso exige.

Porém, pareceu-me faltar a apresentação de casos e projetos concretos para se atingir o objetivo repetido de uma área única europeia ferroviária onde a interoperabilidade fosse a elemento essencial. Falou-se muito em necessidade de ambição, de mudança de mentalidade, de capacidade de decisão, de transformação, de grandes investimentos com o apoio do plano de recuperação (não me pareceu ver aqui também propostas concretas), e não se disse, pelo menos no caso português, que o cofinanciamento só vem se forem apresentados anteprojetos credíveis com as necessárias análises de custos benefícios. Tão pouco nenhum participante teve dó deste país periférico sem dinheiro para construir ligações ferroviárias à Europa de acordo com as normas de interoperabilidade, o que provavelmente indicia que têm de ser os empresários portugueses a "puxar" pelas ligações interoperáveis  (também é um pouco estranho ninguém ter falado no regulamento 1315/2013).
Curioso o confronto entre o ministro PNS que depois de se ter orgulhado do trabalho feito disse que as diretivas de liberalização não tinham  resultado em progresso, o que depois foi contestado pelo representante da AllRail, mas foram todos simpáticos.
Interessante a senhora comissária dos Transportes Adina Valean ter falado no comboio Europe Express, a sair de Lisboa e passar por várias capitais divulgando a problemática e as virtudes das redes ferroviárias de passageiros e de mercadorias, para chegar a Liubliana, próxima capital da presidencia do conselho europeu, mas que iria exigir, infelizmente, 3 comboios diferentes (se percebi bem, uma vez que a minha compreensão de inglês de seminário é muito limitada e a organização economizou na tradução simultânea). 
Isto é, não é só a diferença de bitola entre Lisboa e Madrid, ou Lisboa e Irun, por essa Europa fora há necessidade de locomotivas bi ou tri tensão, com equipamento de sinalização e de ATP diferentes. Não é só o problema da bitola, também o ERTMS e a alimentação. 
Uns dirão que se pode deixar a bitola de fora graças ás travessas polivalentes e aos eixos variáveis, outros diráo por que cargas de água se há-de deixar a bitola de fora. 
Dir-se-á então que, falando-se do Plano nacional Ferroviário, era importante que se assumisse finalmente que a gestão orçamental da modernização das linhas seja completamente separada da gestão orçamental das linhas novas (6000 km para modernizar segundo a senhora comissária da Coesão Elisa Ferreira , e 580 000km de linhas novas para construir, embora a senhora comissária tenha lido apenas 580km) .
Cito ainda a senhora comissária da Coesão dizendo que nenhuma região pode ser deixada para trás (achará que a política deste governo privilegiando o litoral não está a deixar?).
Em resumo, o governo português terá obtido algum reforço de simpatia da Comissão Europeia e das entidades oficiais ferroviárias para com a sua política exclusiva de bitola ibérica, e os intervenientes terão justificado menos mal o seu trabalho. Será claramente pouco.

Ver as intervenções em (inicio no minuto 19.40; estranho ninguém ter apresentado um pequeno powerpoint que facilitasse a leitura dos números, mas terá sido decisão da organização):

programa do evento:

Sem comentários:

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