domingo, 6 de setembro de 2020

Situação em 4set2020 troço a troço do corredor atlântico de mercadorias interoperável segundo o plano das redes transeuropeias TEN-T para 2030

 

O corredor atlantico de mercadorias das redes TEN-T

Atualização em 10 de dezembro de 2020

 

Tendo o governo previsto o envio a Bruxelas do plano de recuperação pós pandemia e a aprovação das linhas gerais do plano Portugal 2030 em 15 de outubro de 2020, invocando debate público e na comissão parlamentar de Economia e Obras Publicas, é urgente esclarecer alguns pontos do debate sobre as interligações ferroviárias à Europa além Pirineus.

O governo tem razão quando diz que Espanha nada ou quase nada faz para as ligações a Portugal segundo os parâmetros da interoperabilidade, incluindo a bitola UIC, mas não tem razão quando diz o mesmo para a ligação do pais basco a França (Y basco, objetivo 2023) e para o corredor mediterrânico (prolongamento da ligação a França por Barcelona até Valencia, objetivo 2025, e Algeciras).

Também a IP e o operador privado Medway não têm razão quando afirmam que os opositores da política do governo pretendem a transformação da rede existente de bitola ibérica em bitola UIC. O que se pretende, tal como estabelecido nos regulamentos 1315/2013 e 1316/2013, é que as novas linhas, cujo traçado integra as redes transeuropeias TEN-T com o objetivo 2030, sejam de tráfego misto (passageiros e mercadorias) e respeitem os parâmetros da interoperabilidade.

São cerca de 1000 km (Aveiro-Almeida, Sines-Leixões, Lisboa-Caia), admitindo-se um prazo de execução diferido em 15 anos após a decisão, num investimento total inferior a 20 mil milhões de euros.

A estratégia da IP e dos operadores privados segue de perto o definido pelos agrupamentos europeus de interesse económico reconhecidos pela Comissão Europeia: AVEP (alta velocidade Espanha-Portugal) e RFC4 (rail freight atlantic corridor) e que se limita à exploração da rede atualmente existente na península de bitola ibérica, servindo, para efeitos de exportação, a futura plataforma de Vitoria (ligada a França em bitola UIC em 2023) e a plataforma  de Can Tunis em Barcelona, na extremidade do corredor mediterrânico, já ligada a França.

 

Esta estratégia contradiz os objetivos dos regulamentos 1315 e 1316, que incluem a transferencia até 2030 de 30% do tráfego rodoviário para o transporte marítimo e ferroviário. A revisão dos regulamentos está marcada para 2023.

Como consequência desta divergência, a Comissão Europeia, a DG MOVE e o Tribunal de Contas Europeu (ECA – European Court of Auditors) vêm sistematicamente chamado a atenção dos governos português, espanhol e francês para os atrasos na implementação das redes transeuropeias e para a sua descoordenação, apesar dos relatórios contemporizadores do coordenador do corredor atlantico e das boas intenções deixadas nas declarações das cimeiras interministeriais.

São exemplos destas críticas:

- o relatório de 2018 sobre as redes ferroviárias do ECA

https://www.eca.europa.eu/Lists/ECADocuments/INSR18_19/INSR_HIGH_SPEED_RAIL_PT.pdf

 

- o relatório de março de 2019 da DG MOVE criticando a descoordenação dos governos português, espanhol e francês, págs 65 e 128

https://ec.europa.eu/transport/sites/transport/files/2019-transport-in-the-eu-current-trends-and-issues.pdf )

 

- o relatório da CE de progresso do 1º semestre de 2020, págs 66 e 83

https://ec.europa.eu/info/sites/info/files/2020-european_semester_country-report-portugal_pt.pdf

 

Analisando troço a troço o corredor atlantico, verifica-se que de facto já é impossível cumprir o prazo de 2030. No caso português, dada a sua periferia, isso remete os seus operadores de mercadorias para o serviço exclusivo do hinterland ibérico, numa altura em que o valor das exportações por todos os modos para o conjunto de França e Alemanha supera já o valor das exportações para Espanha.

 

Troços do corredor atlantico sul e situação relativamente à viabilidade de transporte de mercadorias em bitola UIC:

Lisboa-margem sul              TTT anulada sem novo projeto

Margem sul-Poceirão         anulado sem novo projeto

Poceirão-Caia                       anulado sem novo projeto

Caia-Badajoz                        sem novo projeto

Badajoz-Plasencia              travessas polivalentes, em instalação a segunda via, tambem com travessas                                                 polivalentes

Plasencia-Madrid               lançado concurso para estudo prévio Oropesa-Toledo-Madrid; tráfego                                                     exclusivo para passageiros Toledo-Madrid; objetivo mercadorias em bitoila                                                 UIC 2026 (?)

Travessia de Madrid          sem novo projeto, a esclarecer viabilidade para mercadorias

Madrid—Valladolid           viável, mas a linha UIC é exclusiva de passageiros; objetivo mercadorias em                                             UIC?

Valladolid-Venta de Banos  viável em UIC

Venta de Banos-Burgos        em obra, objetivo 2023(?)

Burgos-Vitoria                    sem novo projeto, estudo prévio prevê apenas bitola ibérica

Vitoria-Hernani                  em obra, objetivo 2023

Hernani-Hendaye              em obra, objetivo 2023

Hendaye-Bordeus             segunda linha em UIC sem novo projeto, objetivo 2032 (?)

 

Troços do corredor atlantico norte

Aveiro-Mangualde          sem projeto

Mangualde-Almeida       sem projeto

Almeida-Salamanca       sem projeto

Salamanca-Valladolid    sem projeto

 

 

Troços do eixo atlantico Sines-Leixões

Sines-Grandola N        projeto inscrito no PNI2030 mas em bitola ibérica

Grandola N-Poceirão  linha de bitola ibérica existente sem projeto de alteração

Poceirão-Lisboa           sem projeto

Lisboa-Porto                 linha nova independente da existente sem projeto

Porto-Leixões               linha nova independente da existente sem projeto

 

Conclusão:  Considerando as decisões da União Europeia no sentido da recuperação pós pandemia e da descarbonização através de meios de transporte menos poluentes, parece impor-se uma estratégia de ação diplomática Portugal-Espanha-França de coordenação de esforços para acelerar a implementação dos corredores ferroviários interoperáveis, para passageiros e para mercadorias, e a colaboração com a CE/INEA no sentido de apoio técnico para a elaboração dos projetos em falta, necessários para a obtenção de cofinanciamento

 

 

1 comentário:

  1. Sim senhor! Parabéns !
    Já temos mais um conhecedor, pois mostra saber do que fala, do corredor ferroviário transeuropeu, denominado Corredor Atlântico, o único dos 9 corredores transeuropeus que serve Portugal e pertence à Rede Principal, definida no programa CEF-T de 2013 da União Europeia
    Benvindo e queira receber os cumprimentos do concidadão
    Mário Ribeiro

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