sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Artigo no Público de 14 de janeiro de 2021: "Privados europeus acusam Portugal..."

 No seguimento da publicação deste artigo

https://www.publico.pt/2021/01/14/economia/noticia/privados-europeus-acusam-portugal-nao-abrir-mercado-ferroviario-concorrencia-1946137

enviei ao seu autor o comentário seguinte.



Assunto: artigo “Privados europeus acusam …” no Publico de 14 jan2021

 

Caro Carlos Cipriano

Felicitações por mais um oportuno artigo sobre a ferrovia que sucede a outros importantes artigos, de que destaco  as ligações aos aeroportos (11jan), o desinteresse dos privados (podcast 10dez), o comboio para Liubliana (1 dez) e o fecho para obras da linha da Beira Alta (30nov), sobre cujos temas seria interessante prosseguir o debate.

Relativamente ao artigo de 14 de janeiro parecerá que a Allrail tem razão na acusação a Portugal de não abrir a ferrovia nacional à concorrência. Aliás, existe uma declaração pública do anterior ministro das infraestruturas, não desmentida pelo atual (que insiste nas virtudes dos eixos variáveis),  que claramente considera a bitola ibérica como uma “proteção natural” contra a concorrência:

(https://www.tsf.pt/economia/para-que-serve-parceria-da-cp-com-renfe-evitar-roubo-da-operacao-portuguesa-10038758.html  ).

Este é mais um exemplo da dificuldade do atual governo em aceitar o cumprimento das regras comunitárias da interoperabilidade, questão que nos divide (ver artigos 170 e 171 do Tratado de Funcionamento da União Europeia e considerandos 2 e 3 da diretiva 797/2016).

Evidentemente que o presidente da Allrail não  precisava de utilizar expressões desagradáveis como a do “modelo monopolista do passado” nem de reivindicar  a benesse da oferta de comboios (cabe ao operador fornecer ou alugar os comboios) quando há na CP carência de material circulante. Mas o MIH também não terá razão quando diz que “o governo cumpre todas as regras europeias relevantes” ( a menos que a definição das especificações da interoperabilidade não seja relevante). E se os privados se desinteressam em concorrer, é porque as infraestruturas não satisfazem (outra maneira de dizer que não cumprem as regras europeias).

É no entanto importante registar o esforço que atualmente está a ser desenvolvido em Portugal para recuperação da ferrovia, sendo justo destacar o papel de Nuno Freitas.

Provavelmente já conhece a entrevista de Nuno Freitas à Railway Gazette de janeiro de 2021:

https://www.railwaygazette.com/in-depth/interview-stabilising-cp-to-face-the-future/58142.article

Nela reproduz a posição oficial, com a qual aliás concordo, que o incumbente público tem todo o direito, sem beliscar as diretivas comunitárias, a gerir a operação e as infraestruturas, desde que não impeça o acesso ao mercado (o acesso ao mercado é uma norma vinculativa, a separação é uma proposta não vinculativa – diretiva 2016/2370).

No entanto, sabe-se lá se para não contrariar a posição oficial, foi inconcludente a resposta à questão do entrevistador The European Commission’s 2020 country report on Portugal made reference to the lack of rail interoperability and connectivity with Spain ( nota minha: faltou acrescentar “and Europe”). What plans does CP have to try to improve matters?”

Não é possível reduzir os objetivos do regulamento 1315/2013 das redes TEN-T à conetividade com Espanha, especialmente numa altura em que as exportações por todos os modos para o conjunto Alemanha e França superam, em valor, as exportações para Espanha e em que a presidência do Conselho Europeu por Portugal seria uma boa oportunidade, juntamente com o ano internacional da ferrovia, para avançarmos na ligação à Europa.

Pessoalmente, julgo que seria uma boa ideia seguir o exemplo espanhol, em que a ADIF gestora da rede convencional e a ADIF Alta Velocidade têm contabilidades e orçamentos completamente separados.

Mais uma vez, não obstante as nossas divergências,  felicitações pelos seus artigos.

 

Com os melhores cumprimentos

 

Fernando Santos e Silva

 

 

 

 

 

 


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