sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Cinco artigos de Carlos Cipriano no Público

É muito meritória a preocupação do jornalista Carlos Cipriano no tratamento de temas ferroviários. A leitura do livro    https://www.ffms.pt/publicacoes/detalhe/2051/guardas-de-passagem-de-nivel    ajudará a compreender  o interese e carinho com que o autor trata esses temas.

Apenas lamento que seja um defensor da exclusividade da bitola ibérica a curto e médio prazo. Não crê que a ligação à Europa alémPirineus em bitola UIC seja possível antes de 3 ou 4 décadas, e infelizmente não batalha para que seja encurtado o prazo, em cumprimento das diretivas comunitárias. 

Mas têm muito interesse os seus artigos.

1 - O comboio para Liubliana

https://www.publico.pt/2020/12/01/economia/noticia/bruxelas-quer-comboio-lisboa-liubliana-fim-presidencia-portuguesa-1941180

É uma ideia interessante, assinalar a transição da presidencia do Conselho da União Europeia no ano internacional da ferrovia. O governo português não verá problema na diferença de bitolas entre Lisboa e Liubliana. Dirá que com comboios de eixos variáveis (a disponiblizar pela RENFE) ou de eixos intermutáveis (a construir urgentemente) , os passageiros e os materiais para debate ou exposição previstos não necessitarão de transbordo em Madrid. E perder-se-á então uma boa oportunidade de mostrar à Comissão Europeia a urgente necessidade de mudança da politica ferroviária do governo português e da sua assessoria da IP, que defende a exclusividade a médio prazo da bitola ibérica. Talvez seguir a sugestão da senhora ministra da Coesão(?) , e irem todos de avião de Lisboa para Madrid, que já tem bitola europeia, enquanto os materiais podem seguir de camião. À boa maneira portuguesa, alguma solução se há-de arranjar. Mas não será boa.

2 - Ligações ferroviárias aos aeroportos de Faro e do Porto

https://www.publico.pt/2021/01/11/local/noticia/comboio-chegar-aeroportos-faro-porto-1945565

Em princípio, a solução ideal será a estação de um aeroporto estar integrada numa linha principal, sendo portanto uma estação de passagem. Poderá também ser a estação terminal dessa linha mas não parecerá boa solução como ramal "cul de sac" em talão relativamente à linha principal. 

Não estando integrada na linha principal deverá o aeroporto estar ligado  a uma estação da linha principal através dum "people mover" ou metro se a distancia for superior a 5 km.

Junto 3 hipóteses alternativas à da IP. 

Embora a prática corrente seja o secretismo no estudo das soluções e a apresentação de uma solução no fim de um processo de desenvolvimento do estudo, assinala-se que devem ser estudadas e dada a possibilidade a qualquer cidadão, nos termos da própria Constituição (art.48º.2) de acompanhar a evolução do estudo e a pronunciar-se sobre as propostas. Inclusivé pelas razóes de transparencia defendidas pela UE deve ser alterado o procedimento habitual, publicndo-se as análises comparativas de custo-benefício das variantes.

Neste caso do aeroporto de Faro, a envolvente exige a construção em viaduto com fundações de estacas e a solução da IP tem o inconveniente da estação do aeroporto não ser de passagem. Dado que uma intervenção destas condiciona o futuro (a prever a ampliação do porto de mar), será caso para considerar o abandono da estação atual de Faro e o troço junto da doca e das muralhas.

Em resumo, trata-se de um assunto a merecer debate público.

Hipótese 1 – abandono da estação de Faro e do troço da doca e muralhas; 3) nova estação de Faro em Bom João; 1) terminal de combustíveis; 2) estação Aeroporto 

Hipótese 2 – estação terminal no aeroporto


Hipótese 3 –  1) people mover entre o aeroporto e a estação de Faro; 2) ramal para o terminal de combustíveis


Hipótese  IP -  concordância a norte da estação de Faro



3 - Acusação da Allrail de procedimento anti-concorrencial do governo português

https://www.publico.pt/2021/01/14/economia/noticia/privados-europeus-acusam-portugal-nao-abrir-mercado-ferroviario-concorrencia-1946137

A Allrail é a associação de operadores ferroviários privados de transporte de passageiros e de bilhética. Tem 12 membros, de que se destacam a Transdev, a Ilsa, a Stagecoach. PTinham publicado em 11 de janeiro um comunicado com o teor que a noticia retomou. É uma manifestação de interesse em explorar o mercado português, como brevemente acontecerá em Espanha, mas o pricipal obstáculo não será a proteção do governo português à CP, ou aos operadores privados de mercadorias em exercício, porque a própria legislação comunitária salvaguarda o equilíbrio financeiro do operador incumbente.  A principal razão é a condição deplorável em que se encontra a infraestrutura da rede nacional, como publicamente a própria Medway tem denunciado, e a sua incompatibilidade com os padrões da interoperabilidade que dificultam o fornecimento de material circulante.

Mas é uma tomada de posição importante, chamando a atenção para a necessidade de mudar a política ferroviária oficial.

4 - Ausencia em Lisboa de ligações ferroviárias internacionais 

https://www.publico.pt/2021/01/15/fugas/noticia/europa-fronteiras-so-tres-capitais-nao-comboios-internacionais-lisboa-1945783

Este é um exemplo da decadência do serviço ferroviário português. Desde março de 2020 que não há ligação ferroviária direta a Madrid. Neste artigo há uma pequena omissão: embora Talin esteja ligada a Vilnius com transbordo na fronteira (como Atenas relativamente a Sofia), existe uma ligação direta de Talin a S.Petersbourg.

5 - Abaixo assinado pela retoma do Sud e do Lusitania

https://www.publico.pt/2021/01/20/fugas/noticia/abaixoassinado-pede-retoma-comboios-nocturnos-espanha-franca-1947139

Este é mais um exemplo da decadência. Na sequência deste abaixo assinado o senhor ministro das infraestruturas respondeu em videoconferencia a uma eurodeputada que decorriam os trabalhos de execução da ligação em alta velocidade de Lisboa a Madrid, e que estaria concluida em dezembro de 2023. Julgo que se referia à ligação Evora Norte-Caia, que permitirá em vi unica e bitola ibérica, encurtar a ligação a Madrid, mas em que apenas naquele troço será possivel a alta velocidade (em linhas pré existentes, considera-se alta velocidade 200 km/h; em linhas novas 250 km/h). São declarações que escondem a realidade do incumprimento do regulamento 1315/2013 da parte portuguesa da rede ferroviária transeuropeia TEN-T de alta velocidade e tráfego também de mercadorias.

Declarações do ministro:

https://www.rtp.pt/noticias/economia/governo-anuncia-que-sera-retomada-a-ligacao-lisboa-madrid-por-tgv_v1292740

https://observador.pt/2021/01/26/presidencia-da-uniao-europeia-governo-preve-alta-velocidade-lisboa-madrid-ate-final-de-2023/

Acordo de 4 operadores para desenvolver os comboios noturnos:

https://www.railwaygazette.com/passenger/four-operators-to-co-operate-to-expand-night-train-services/57981.article



PS em 30jan2021 - Em complemento da referência aos people mover, junto algumas referencias deste modo de transporte hectométrico, e do modo PRT (personal rapid transit). Este é um tema sobre o qual as universidades e os incumbentes de transporte urbano e suburbano já deviam estar a debruçar-se, dada a forte componente informática e a possibilidade de eliminar tráfego de automóvel. Se não quiserem aceitar o argumento de que não têm vocação para isso, ao menos pensem que deveriam prever nas suas estações espaço e equipamento para a correspondência com estes modos complementares. Não o fazendo, fica o campo aberto às soluções decretadas pela câmara de Lisboa.



Ver nos diapositivos 14 e 15 exemplos de personal rapid transit e de people mover


Há ainda a solução de teleféricos para evitar os custos de construção dos viadutos. Estimativa de 3000 pass/h e de 10 milhões de euros por km.

PS em 10 fevereiro de 2021 - no seguimento de sugestão de amável colega, junto reformulação da hipótese 3, com alimentação de combustível através de pipeline desde a estação de Parque das Cidades até ao Aeroporto (6,7 km) e e com uma rede básica de tram-train ou LRT



2 comentários:

  1. Prezado Fernando

    Óptimas observações estas suas, de um "bitoleiro" , para um "fóssil" que publicita a "voz do dono", na defesa cega da remanescente rede bicentenária de bitola ibérica, criada no séc. XIX.

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  2. Caro Fernando,
    Subscrevo inteiramente todos estes teus comentários.
    Receio, porém, que, se os "iluminados" ministros que temos tido continuarem no poleiro por muito mais tempo, já não haja o menor remédio. De pior país europeu não passaremos e aí ficaremos eternamente, seja como colónia espanhola seja como exemplar bastião dos monopólios intocáveis. O Diabo que escolha a "melhor" solução.

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